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João Eichbaum

Quando é difícil encontrar a lógica

As vovós estavam cobertas de razão, quando invocavam provérbios que combinavam com sua maneira de ver o mundo. Mas, merece ressalvas um deles, que elas volta e meia repetiam: "o ânus não tem nada a ver  com as têmporas".
Não era propriamente assim que elas denominavam aquela parte final do intestino grosso, por onde se despede o excremento humano. Mas, vá lá. A verdade verdadeira, incontestável, porém, é a que nos ensinam as funções da fisiologia animal. Há uma relação entre os extremos, sim, entre a alta nobreza anatômica e a periferia. Quando a ampola retal enche, ela passa essa informação para o cérebro que, por sua vez, nos avisa: esqueça essa coisa de dignidade humana e vá fazer as vontades do intestino.
Essas sublimes ponderações ocorrem a qualquer pessoa conhecedora das funções biológicas, ao lerem as declarações do ministro Edson Fachin, a respeito de candidatos, eleitores e urnas eletrônicas. Sua Excelência, ao saber que as Forças Armadas queriam fiscalizar as eleições, se saiu com essa preciosidade: "eleição é assunto para as forças desarmadas".
Pediu, levou. Os militares elevaram o tom, e o Fachin não teve outra saída, senão apelar para um instrumento de que se socorre com muita frequência o Lula, quando a conversa desafina e assume a tonalidade de controvérsia azeda: o "diálogo entre instituições".
Mas, instituições não são pessoas. Elas são o Estado. Não conversam, não ajeitam as pontas. Sua fala é a lei. Elas só devem cumprir a lei, e nada mais. E é assim que o Ministro da Defesa encara o tema a ser tratado com a Justiça Eleitoral. Não é assunto que sirva de diálogo em tom de conversa da bar, com palmadinhas no ombro do interlocutor, entremeadas com goles de cachaça 51 e picadinhos.
Por isso, o general Paulo Sérgio Nogueira remeteu novo ofício ao presidente do Superior Tribunal Eleitoral, Edson Fachin, informando que indicará os nomes dos técnicos militares que atuarão como representantes das Forças Armadas, na fiscalização das urnas eletrônicas.
Mas, ao presidir a reunião da Comissão da Transparência Eleitoral, parece que Fachin não se limitou a dar conhecimento do teor do ofício do general à dita Comissão, e desatou a filosofar, mascarando recados, como resposta ao Ministro da Defesa. Assim, deixou escapar suas fantasias nessas palavras: "o político que duvida do seu eleitor, não é digno do mandato que exerce e desonra a história da democracia". E mais: "quem lança dúvidas sobre o sistema eleitoral, na verdade, questiona a escolha dos eleitores".
Onde fica a lógica dessas afirmações? Que premissas sustentam essa estranha conclusão de que o "sistema eleitoral" se confunde com a "escolha dos eleitores"? Donde provieram essas lufadas de inspiração para o cérebro do Fachin? Ninguém o alertou de que juiz só julga nos autos? Que lei nenhuma lhe dá competência para emitir juízos de valor sobre candidatos?
Por aí dá para concluir que elucubrações sem lógica é que levavam as vovós a dizerem  que o posterior não se conecta às têmporas.

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