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João Eichbaum

Outra do Barroso

"A gente deve procurar a verdade possível e plural". Essa frase foi obra da boca  do senhor Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal, numa tal de Brazil Conference, nos Estados Unidos. Essa coisa é realizada, segundo a imprensa, por "estudantes brasileiros" em Boston. Nesse ano, além do Barroso, dela participaram Simone Tebet, João Doria e Ciro Gomes.
Pelo perfil dos participantes dá para avaliar não só nível intelectual, como o móbil eleitoral  da tal conferência. E a frase do Luís Roberto Barroso serve como amostra da pobreza intelectual, na área de domínio dos conceitos.
Existem várias espécies de verdades? Existem verdades possíveis e impossíveis?
Qualquer pessoa razoavelmente alfabetizada sabe que  a verdade   comporta apenas um adjetivo: única. Só podem ser possíveis ou impossíveis, singulares ou plurais, as versões sobre a verdade. Só se pode qualificar o trato, a visão da verdade, mas não essa. A verdade, por si, é imutável, inflexível, mas, passando pela opinião do homem, ela pode receber e, o mais das vezes, recebe, qualificativos, distorsões, roupagens que não a deixam nua.
Claro, dentro de certos limites, como nos autos de um inquérito policial, administrativo ou nos de um processo judicial,  a busca pela verdade fica limitada. Por mais que se vasculhe, nem sempre ela virá à tona. Os elementos colhidos nessas áreas, por melhores que sejam os esforços, muitas vezes serão insuficientes para revelar a verdade procurada. Mesmo assim, deles não pode brotar uma verdade meramente possível, mas, sim "meia verdade". E se é "meia verdade", não é a verdade. Ou seja, não existe a verdade "possível". O que existe é versão possível ou aceitável acerca de uma verdade perdida no entrevero das circunstâncias.
Não se pode usar o vocábulo "verdade" como massa de moldar. "A verdade vos libertará", uma ova! A mentira pode livrar da cadeia, e a verdade motivar exatamente o contrário.
Com sua conceituação capenga da verdade, Barroso fez um gênero que combina com a Simone Tebet, João Doria e Ciro Gomes. E, como eles, embora sem mencionar o nome do presidente, torpedeou o governo Bolsonaro. Sem a sagacidade viperina de quem domina a arte da expressão, ele deu chance a seus críticos inescrupulosos, para que impinjam desonra à madame que lhe deu a luz - digamos assim, para evitar o surrado e torpe palavrão. Usou linguagem de candidato, propondo como "agenda para o país" o "enfrentamento à pobreza extrema e desigualdades injustas e desenvolvimento sustentável". E falou mal do Brasil atual, com um tom de militante da oposição. "Eu não gostaria de ter uma narrativa de que tudo está desmoronando. Precisamos de compreensão crítica de que há coisas ruins acontecendo, mas é preciso não supervalorizar o inimigo. Nós somos a democracia. O mal existe e precisamos enfrentá-lo, mas o mal não pode mais do que o bem" - disse ele, com todos os pontos e vírgulas.
Terá ele escondido a toga para fazer esse discurso? Ou fez uso dela como pano de fundo de sua fumegante disposição para a luta?

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