O médico desbravador da Colônia Nova e duas vezes prefeito de Aceguá, Gerhard Martens, 79 anos, conhecido como doutor Geraldo, teve sua história eternizada em livro. A obra foi escrita pela filha dele, Daisy Vanise Martens Penner, que mora em Curitiba. O título resume a vida desse descendente de russos: "Gerhard Martens - Uma trajetória de muito trabalho, fé, persistência, determinação, otimismo e sucesso".

A reportagem conversou com Martens sobre a obra. Foi num final de tarde, por telefone. De voz mansa, como é descrito no livro, ele contou que foi uma surpresa, pois não desconfiava. Confidenciou que ouvia muito a esposa discutindo por telefone, à noite, sem imaginar que ela estava "abastecendo" a filha com informações sobre sua trajetória.

Outra que contribuiu para a obra foi sua secretária, quando ele era prefeito. Para não revelar a verdade, ela dizia que queria informações sobre a vida dele para o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).

O livro reúne a trajetória de vida, relatos sobre ele e fotos. A surpresa aconteceu no Natal d, quando Martens recebeu a sua biografia escrita em 144 páginas.

A filha começa descrevendo o pai, como "aquele homem alto, claro, determinado, resiliente, nascido em 1942 na região de Ibirama - SC". O homem que teve uma infância difícil, pois seus pais vieram para o Brasil refugiados da Rússia pela perseguição de sua fé, em1930.

Para o Folha do Sul, Martens contou que, aos 7 anos, veio com os pais para Colônia Nova em busca de terra para plantar. O foco era plantar trigo nessa região.

De uma família de 10 irmãos, o começo foi muito difícil. O ex-prefeito recordou que não havia acesso para nada. "Vivíamos com muitas dificuldades", lembrou. Frente a essa vida austera, foi que seus avós começaram a incentivá-lo a ser médico. Mas o que ele queria mesmo era se tornar agrônomo.

O pai o levou para fazer o Ensino Médio em São Leopoldo. Depois, retornou para fazer o Científico no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. "Aí já estava decidido a ser médico", disse. A próxima parada foi Porto Alegre, onde fez vestibular para o curso de Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Fiel às origens

Por um compromisso moral com familiares e amigos, veio exercer a medicina na Colônia Nova. O início foi difícil. O hospital estava quase pronto, custeado com recursos da Alemanha - por meio da Igreja Luterana.

E a política entrou na vida de Martens de forma natural. Era o médico desbravador, diretor do hospital e presidente da comunidade da Colônia Nova. Nesse período, a região recebeu eletrificação e telefone.

Quando houve a emancipação do município de Aceguá, ele foi incentivado a disputar a prefeitura. Na primeira vez, não obteve êxito, mas mais tarde foi eleito e governou a Princesa da Fronteira por duas ocasiões. No pleito de 2020, resolveu não concorrer à reeleição, mas elegeu o seu sucessor. Para Martens, isso significou encerrar a trajetória política com chave de ouro.

Quem manda é a mulher

O homem que dedicou à vida para a Medicina, em especial como cirurgião, e à política, agora está se dedicando mais a questões que nunca teve tempo, como ficar em casa. "A vida está mais complicada, a esposa está mandando em mim", brincou.

Uma das coisas que mais projetou para quando chegasse o tempo de diminuir o ritmo profissional era viajar mais. Mas, em razão a pandemia, esse plano irá ficar para depois.

Martens é casado com Frieda, tem uma filha, três filhos, oito netos e três bisnetos.

O sonho da filha

No texto de apresentação, Daisy relata que o livro é a realização de um sonho que teve ao longo de alguns anos, ouvindo relatos e testemunhos de inúmeras pessoas sobre a "incrível trajetória de vida de meu pai Gerhard Martens".

Segundo ela, não fugia de sua mente a ideia de que tanta informação preciosa seria merecedora de uma biografia. E foi em 2020 que ela decidiu encarar o sonho de escrever a biografia do pai.