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Entrevista

Setembro Amarelo reforça importância da saúde mental

Reprodução FS imagem ilustrativa - fireção ilustrativa - Dilce destacou importância de abordar tema com respeito e acolhimento

por Niela Bittencourt


A saúde mental é um dos temas mais debatidos e comentados, atualmente, na internet. E por vezes é da internet que muitos se afastam para cuidar dela. O debate sobre a saúde mental ganha ainda mais notoriedade nesse período, que é de prevenção contra o suicídio, o Setembro Amarelo. A reportagem conversou com a psicóloga Dilce Helena Alves Aguzzi sobre várias questões relacionadas a saúde mental e também sobre a importância desse período para a sociedade como um todo.

Entrevista

FS - Atualmente, na tua opinião, o debate sobre a saúde mental está menos concentrado neste mês significativo?!

Dilce - Eu acredito que está mais diluído ao longo do ano. É um tema que tem sido bastante debatido. De modo geral, saúde mental e as diversas facetas que essa questão pode tomar. Tanto no sentido da prevenção quanto no sentido do real entendimento, do respeito.

 
As pessoas que estão vivendo, de alguma forma, alguma manifestação de um desequilíbrio, de um transtorno ou de repercussões não positivas ou sofridas no que se refere a saúde mental. Então, ao longo do ano, a gente vê essas questões tomando corpo, ao longo dos últimos anos; tanto pela função da pandemia, que trouxe mais liberdade no sentido de propagação das campanhas on-line e dos atendimentos, que se propagaram; tanto em função disso quanto pelo aumento em si das questões relacionadas a ansiedade, Burnout, depressão - todo tipo de situação que envolve o cenário mental e sua repercussão na qualidade de vida dos indivíduos.

 
Então, eu acho que isso está tão mais presente nas nossas conversas, nas redes sociais, nas mais diversas mídias, que, de repente, nos faz parecer que o Setembro Amarelo não tem ganho tanta relevância. Mas eu creio que sim, ele continua significativo, relevante e ganhando muitas vezes até mais profundidade. Tenho visto movimentação de conversas, palestras, rodas de conversas e aprofundamento em escolas, em espaços de trabalho, empresas e grupos, tanto on-line quanto presenciais.

 
Então, acredito que esse tema vem tomando uma certa profundidade: as pessoas estão tendo menos receio de falar sobre isso ou, apesar do receio, estão entendendo que é importante sim falar sobre isso, conversar um pouco mais sobre, conhecer um pouco mais sobre. O mês de setembro é mais voltado para chamar atenção, trazer notoriedade para importância de falar sobre isso, e continuar se falando e trabalhando no sentido da prevenção ao longo dos outros meses, ao longo de todos os dias do ano.

FS - O que levou as pessoas a falarem mais sobre a saúde mental?!

Dilce - Acredito que o que leva as pessoas a falarem sobre a saúde mental, de uma forma mais intensa, atualmente, é um conjunto de fatores. Mas, no topo da lista desses fatores, está o padrão comportamental social, a forma com que as pessoas convivem em sociedade e a rede de stress que se estabelece nessa qualidade de vida.

 
Então, isso gera muitos sintomas, muitos sofrimentos, muitas questões, que repercutem no nosso cenário mental. E um cenário mental muito povoado e com pouco tempo para se digerir esse excesso de estímulos, que é o que a gente vive atualmente, gera uma grande dificuldade, um dificuldade maior ainda de se lidar de uma forma adequada, de ima forma tranquila, uma forma possível, uma forma OK, vamos dizer assim, com esse excesso de estímulos.

 
Então, somos perpassados diariamente por uma dose massiva de informações - reais, não reais, informações tranquilizadoras, outras nem tanto, outras catastróficas. Soma-se a isso as nossas responsabilidades, as nossas expectativas, os nossos medos, toda a série de compromissos. Tudo isso em 24 horas. Sabendo que também tem que descansar, tem que dormir, tem que estudar, tem que se refazer. Então, são muitas exigências, e isso em todas as fases da vida.

 
Em qualquer lugar, hoje, tu é atravessado por uma série de fatores que são estressantes, estimulantes. São estímulos constantes. O quadro geral mental do ser humano, atualmente, é de stress. O ser humano mediano - no sentido de uma média da população - está estressado. Isso faz toda a diferença no sentido de precisar: todo mundo acaba sentindo a necessidade, na verdade, de falar sobre a saúde mental, de se informar sobre a saúde mental, de melhorar a sua saúde mental.

FS - Por que, na tua avaliação, os jovens falam tanto sobre isso, têm consciência da importância de buscar ajuda, mas também estão entre aqueles que mais enfrentam problemas relacionados a saúde mental?!

Dilce - Eu não sei se podemos dizer isso. Talvez seja a faixa da população em que mais aparece porque está na adolescência ou próximo, e é um período que por si só já traz muita movimentação. São muitas mudanças, muitas rupturas, muitas reestruturações e muitos conflitos emocionais. 


Então, é uma fase muito vulnerável. E, ao mesmo tempo, nessa faixa etária, atualmente, eles são muito consumidores de informação, de tendências, de modas, de estímulos. Estão muito ligados na internet. Então, eles são também, de certa forma, muito receptivos às campanhas. Faz sentido para eles.

 
Isso é uma coisa interessante que vem acontecendo: as campanhas de auxílio e de informação em relação a saúde mental têm feito sentido para os jovens. Eles estão em busca de consumir informação e dicas, conselhos, aconselhamentos, orientações a respeito de padrões mais saudáveis de convivência , de autocuidado, de relacionamentos.

 
A gente está vendo uma gama muito grande de consumo de conteúdo relacionado a comportamento, a autoentendimento, saúde mental, o que nos faz pensar em duas coisas: primeiro, assim como na pergunta estava implícito, por um lado significa que eles estão mesmo vulneráveis e sentindo essas questões na pele; e por outro, que isso está fazendo de alguma forma que eles procurem por auxílio, por informação, e isso já é uma coisa em si positiva.

 
FS - O mês de setembro e todas as ações seguem sendo importantes?! Em que nível?!
Dilce –
O mês de setembro continua tendo a maior relevância, sendo uma campanha que traz importância, traz significado, traz um chamamento de atenção para o tema do suicídio no sentido de prevenção, compreensão dos sinais de alerta e compreensão dos locais onde qualquer pessoa pode procurar por auxílio. O Setembro Amarelo tem a importância de trazer esse tema para as rodas de conversa, para a população de modo geral, para que qualquer pessoa consiga compreender que isso é muito importante. Toda vida é importante, que sempre tem uma possibilidade de auxílio e onde esse auxílio pode estar. Quem são os atores sociais que podem influenciar, atuar, auxiliando essa pessoa nesse momento de crise.

 
A principal relevância do Setembro Amarelo é chamar atenção para que isso é um momento. Ele pode passar se a pessoa receber a atenção adequada, o acolhimento adequado. Esse momento de crise passa e a pessoa consegue enxergar a sua vida com uma outra perspectiva, de uma outra forma. Nesse sentido, o Setembro Amarelo vai continuar por um bom tempo tendo uma relevância muito grande. Porque é o mês quando se propaga com maior intensidade os focos de atendimento, os pontos de acolhimento, locais onde as pessoas podem ser atendidas com respeito adequado, com sigilo, com acolhimento necessário.

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