BAGÉ WEATHER

Repercussão

Ideia de suicídio assistido gera choque

Reprodução FS imagem ilustrativa - fireção ilustrativa - Ator Alain Delou gerou comoção com decisão

Nos últimos dias, muito tem se falado sobre o suicídio assistido ou morte assistida. É um assunto polêmico, ainda um tabu na sociedade - no Brasil, aliás, tal prática não é permitida. Esse assunto já foi bastante debatido na época do lançamento do filme Como eu era antes de você e volta a tona com o anúncio feito pelo filho do ator Alain Delou sobre a decisão do pai de recorrer a tal procedimento, na Suíça. O suicídio assistido, diferente da eutanásia, é uma opção da pessoa, que tira sua própria vida com a ajuda de outra.

A reportagem conversou com a psicóloga Dilce Helena Alves Aguzzi. Afinal, por que tal tema, sempre que vem a tona, gera tanto choque? Por que ainda é um assunto tabu? "Por muitos aspectos, mas eu acredito que o principal deles seja porque o nosso aparato psíquico, a nossa mente, o nosso lado não material, ele não compreende, ele não abarca essa possibilidade de compreensão da escolha por deixar de existir", respondeu.

Em síntese, lembrou a profissional, há vários componentes para a continuidade da vida. "A gente tem toda uma memória celular, uma série de sistemas interligados e trabalhando para que a vida não só seja prolongada, mas que ela persista, que seja duradoura, que tenha qualidade. Então, são muitos sistemas funcionando para que continue. E para que a gente tenha também o senso de sobrevivência, que é uma coisa muito instinto, muito forte, muito prevalente", contextualizou.

Ou seja, optar por findar a vida é um contrassenso ao sentido de permanência. "É um contrassenso o desejo de morrer. Então, filosoficamente falando, teria que ter algum problema, teria que ter algo muito contraditório com esse senso de sobrevivência para desejar parar de existir. Então, a gente sabe que, para que isso aconteça, tem que ter algo muito sério, muito forte, muito mobilizador de forças profundas e contraditórias ao desejo da permanência, da vivência", explicou.


Debate

Dilce lembrou que, desde que o mundo é mundo, algumas pessoas optam por essa saída. "Algumas pessoas colocam isso como direito a escolha, relativo a doenças extremamente dolorosas", mencionou. Para algumas pessoas, isso (a opção pelo suicídio assistido) seria uma morte "com de certa dignidade". Para a profissional, no Brasil, ainda não há condições de avançar nesse sentido.

"Alguns países evoluíram nesse debate, talvez até por terem uma saúde básica extremamente bem resolvida e, de repente, surge tempo e condições para pensar nesse outro aspecto. Não que seja menos, de modo algum, ele não é (o tema), mas sobra talvez tempo, energia e recursos para pensar também nesse aspecto", opinou. "No nosso caso, no Brasil, a gente vive uma outra realidade", sustentou.

Psicologicamente falando, pontuou Dilce, quando uma pessoa opta pela morte é porque ela deixou de querer viver, deixou também de ter esperança, de acreditar que seja possível dar continuidade a uma existência. "Ou ela também pode ter deixado de acreditar no sentido dessa existência", disse. "Ela deseja, de alguma forma, parar com a dor, parar com o que incomoda", elucidou.

Dilce garantiu que é realmente muito difícil opinar sobre esse aspecto. "O que eu posso dizer é que, de tempos em tempos - porque hoje em dia nós temos mais capacidade de comunicação -, quando alguma coisa acontece, tanto na vida real quanto nas artes, surge a possibilidade de se conversar sobre isso. O tema é um tabu, é realmente um tema que choca, que é de difícil compreensão - cada vez que ele aparece nas artes ele vai chamar atenção e suscitar muitas ideias. Da mesma forma que quando aparece nas artes, quando aparece na vida real alguém com muita notoriedade, que pensa em suicídio ou comete suicídio, também choca, chama muito atenção", comentou.

"Sempre que alguém optar por isso gerará um choque, seja pela surpresa, seja porque é contraditório ao senso de autopreservação. E também choca porque parece que traz uma ideia. De modo geral, o ser humano tem muito receio que essa ideia passe a ser uma opção", ainda argumentou a psicóloga.

"A gente imagina que as opções sejam sempre relativas a vida, a continuidade, a integração dos aspectos difíceis dentro do propósito de vida. Uma vida com propósito e não uma vida onde a saída dela seja uma opção. Realmente, dentro da perspectiva da saúde, deixar de viver nunca é opção, sempre é a última", acrescentou.


O que é

É importante lembrar que o suicídio assistido tem critérios até mesmo onde é permitido. "Não é uma opção simples, que qualquer pessoa possa querer. Não é uma coisa aleatória, que a pessoa pode desejar e ponto", ressaltou. Por fim, ela lembrou que, na nossa sociedade, o suicídio está sempre relacionado a uma falha no sistema de autopreservação. "E que não é uma falha no sentido de defeito que a pessoa deu. É uma falha no sentido de intenso sofrimento. A gente encara como sofrimento psíquico e encara também como a possibilidade de ajuda dentro do sistema Dentro da rede de apoio à saúde mental. Nesse sentido que a gente tem essa responsabilidade de trabalhar o suicídio, como uma coisa a ser evitada", ressalvou.

Economista explica elevação generalizada de preços Anterior

Economista explica elevação generalizada de preços

Confirmada inauguração da Casas Bahia em Bagé Próximo

Confirmada inauguração da Casas Bahia em Bagé

Deixe seu comentário