O Brasil vem enfrentando um problema grave no combate à covid-19: a velocidade das imunizações. Enquanto alguns países já estão com grande parte da população vacinada, por aqui as doses foram aplicadas apenas nos idosos e em alguns grupos da sociedade. Mas a grande preocupação dos municípios é quanto à chegada da segunda dose da vacina, sobretudo da CoronaVac.

Em Bagé o reflexo desse problema aconteceu no último final de semana. No sábado, todos os postos da cidade e o ginásio da Escola São Pedro ficaram abertos para a aplicação da primeira dose na faixa etária dos 61 anos (que receberam o imunizante AstraZeneca) e da segunda dose nos demais grupos (que receberam a CoronaVac), porém a vacinação foi encerrada muito antes do horário previsto, por volta das 9h30min, e muitas pessoas ficaram sem a segunda dose.

De acordo com o coordenador da Vigilância em Saúde do município, Geraldo Gomes, foram remetidas à cidade apenas 360 doses da CoronaVac, quando seriam necessárias cerca de 800 doses. A orientação é que as pessoas fiquem atentas ao calendário vacinal divulgado pela prefeitura, que espera receber mais doses do imunizante ainda nesta semana.

O fato gerou uma enxurrada de reclamações, sobretudo nas redes sociais, de pessoas que ficaram sem a segunda dose da vacina. O coordenador foi enfático ao dizer que isso é um problema recorrente em todo o país. "Não é falta de organização do município. Esse problema tá acontecendo em todos os lugares. O Estado tem enviado poucas doses e não conseguimos aplicar em todos que deveriam tomar a segunda dose", explicou.

O problema, sobretudo, é com o envio da CoronaVac. A outra vacina aplicada no país, a AstraZeneca, vem sendo enviada com mais regularidade. Tanto que é ela que está sendo aplicada nos novos grupos imunizados. Sobre uma nova remessa, Gomes disse que não há previsão de chegada, já que o Estado avisa poucos dias antes do envio. Contudo, a expectativa é que uma nova remessa seja enviada aos municípios ainda nesta semana.

Problema recorrente

A falta da segunda dose da CoronaVac tem se repetido em todo o país. Isso, inclusive, motivou uma manifestação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante a audiência pública da Comissão Temporária da covid-19 do Senado, realizada ontem.

Queiroga informou que a previsão é de que novas doses da vacina Coronavac só sejam distribuídas pelo Instituto Butantan daqui a 10 dias. A pasta deve emitir nos próximos dias uma nota técnica sobre a aplicação da segunda dose de vacinas contra a Covid-19.

De acordo com ele, a imunização completa é uma preocupação da pasta há mais de um mês, quando o ministério autorizou a utilização imediata de todas as vacinas contra a covid-19, sem a necessidade de manutenção de estoques para aplicação da segunda dose. Agora, "em face do retardo dos insumos vindos da China para o Butantan, há uma dificuldade com essa segunda dose", disse.

O ministério tem cobrado que municípios se organizem para garantir que o intervalo entre as aplicações das vacinas da covid-19 seja respeitado. Segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), divulgado no último dia 16, cerca de 1 426 municípios não reservaram a segunda dose da vacina. A entidade recebeu cerca de 3 mil respostas sobre o tema.

Queiroga também disse aos senadores que mudanças feitas por prefeitos e governadores na ordem de prioridades da vacinação atrapalham a campanha nacional contra a covid-19. O ministro pediu respeito à lista elaborada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). "Ocorre que na 'bipartite' (reunião entre estados e municípios), às vezes se muda orientação para incluir um grupo ou outro. Isso termina por alterar a harmonia do nosso programa. Atrapalha o processo de vacinação", disse o ministro.

Outras vacinas

Além da imunização contra a covid-19, outras vacinas já estão sendo aplicadas na população, como o imunizante contra a H1N1. Por isso, conforme Gomes, a aplicação dessas outras vacinas está centralizada nos postos Camilo Gomes e Sá Monmany. "Pra não misturar as pessoas que vão procurar outras vacinas com as da covid", justificou.

Assim, quem for tomar a dose da vacina contra o coronavírus deve continuar procurando o ginásio da Escola São Pedro e os demais postos localizados nos bairros.