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Drama

Casal morou na Ucrânia e acompanha conflito de Bagé

Márcia Sousa imagem ilustrativa - fireção ilustrativa - Casal morou 11 anos em Kiev

Os 12 223 quilômetros que separam Bagé da Ucrânia não representam essa distância para o casal Joel Costa e Susana Stepaniuk. Os dois moraram por 11 anos no país, que hoje é cobiçado e bombardeado pela Rússia. O casal de missionários da Igreja Batista Brasileira acompanha com apreensão o conflito no chão que conheceram tão bem. Eles moram na Vila Brum, em Bagé.

A reportagem do Folha do Sul foi recebida em uma peça da igreja localizada na avenida Marechal Floriano, nas proximidades da Urcamp. No espaço, existem várias peças que remetem a Ucrânia. Em cima de um armário, estão pequenas bonecas rechonchudas de madeira, que são chamadas de matriochka, que quer dizer mãe no idioma ucraniano.

O pastor Joel mostra uma peça que representa os três irmãos fundadores da capital da Ucrânia, Kiev. São os lendários Kyi, Shchek e Khoryv. É em meio às lembranças e a angústia da guerra que o casal fala sobre o tempo que viveu na Ucrânia, quando este era um dos países que integrava a extinta União Soviética.

Susana fez contato com um primo que mora no lado oeste da Ucrânia, onde os tanques de Vladimir Putin ainda não chegaram. As mulheres e crianças foram para a Polônia, ele e um filho ficaram no país. Ele contou que falta água, luz e gás. "Eles estão muito apreensivos, nunca pegaram em armas e não sabem no que vai dar", diz, resignada.

O pastor conhece famílias do oeste da Ucrânia, por onde os russos invadiram o país e estão bombardeando, mas com esses não teve contato.

Foi entre meados de 80 e 90 que o casal foi morar na Ucrânia. Quando foram para lá, tinham dois filhos. Lá nasceram duas filhas gêmeas, com 25 anos, que moram em São Paulo.

O casal conta que os filhos estão abalados com o que está ocorrendo naquele país, pois deixaram amigos lá.

Nos países de Stalin

Pouco antes da Segunda Guerra Mundial eclodir, os avós maternos e paternos de Suzana saíram da Ucrânia em direção a Argentina. Eles constituíram família no país vizinho, onde Suzana nasceu.

Joel Costa é natural da Bahia e foi aprender o idioma russo na Argentina e foi lá que conheceu a esposa. Se casaram e foram como missionários para o Uruguai, onde ficaram por três anos - lugar onde nasceram os dois primeiros filhos. Da República Oriental do Uruguai, eles partiram em missão para a longínqua Ucrânia. A missão lá e nos outros 14 países da União Soviética de Josef Stalin era qualificar lideranças da igreja que não tinham formação teológica.

Durante 11 anos, Joel Costa percorreu os gélidos países do leste europeu como missionário.

Como nos países soviéticos era proibida religião, ele se apresentava como profissional liberal, mesmo assim sempre um espião andava no encalço do pastor brasileiro.

Reminiscências de um tempo

Na conversa com a reportagem, o pastor começa a mostrar fotos do tempo que foi missionário nas terras outrora dominadas pelo regime sanguinário de Stalin. São imagens lindas do inverno rigoroso, os imponentes prédios, as tantas vezes que dormiu ou fez uma refeição em um tapete, conforme os costumes dos muçulmanos. A arquitetura dos diferentes 15 países que integravam a União Soviética encantam.

Mas uma dessas fotos é emblemática para o pastor. É em uma conferência numa cidade próxima a usina nuclear de Chernobyl. O pastor está no púlpito falando e o público de costas para a foto. Ele conta que todos com rosto e membros deformados em razão do maior desastre radioativo da história. O religioso lembra que era difícil olhar para os rostos sem se horrorizar.

Tudo é buquê de flores

O casal relata que uma das marcas registradas da Ucrânia é presentear com buquê de flores. Toda e qualquer data, o presente são flores, em especial para as mulheres, sobretudo as professoras. "Tudo é um buquê de flores", recorda, sorridente, o pastor.

O pastor comenta que a Ucrânia se diferencia dos outros países da União Soviética. Segundo ele, o povo é acolhedor, amigo e hospitaleiro. "Até o idioma é mais melodioso", lembra, com saudades.

Susane fala com tristeza das praças que estão sendo destruídas pelo arsenal russo. Segundo ela, esses espaços recebem um carinho especial da Ucrânia e conta que seus filhos muito brincaram nesses espaço públicos, que hoje viraram escombros.

Outro baque duro para o casal é acompanhar de longe a separação das famílias pela imposição da guerra. "Até que ponto chega a maldade humana", reflete a missionária.

No caminho, Bagé

Por volta de 2000, o casal e os quatro filhos deixaram a Ucrânia e passaram dois anos na Bahia. Como Suzana queria ficar mais próxima dos pais, que moram na Argentina, vieram morar em Bagé. Era para ficarem cinco anos e já se vão quase 15 anos.

 

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