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Júri

Assassino de advogada é condenado a mais de 62 anos

Luciano Madeira imagem ilustrativa - fireção ilustrativa -

Durou 16 horas o julgamento de Cristofer da Silva Tavares, 27 anos. Ele era acusado de matar a advogada Ana Laura Borralho, 28 anos. O crime aconteceu no dia 26 de junho do ano passado, em frente a residência da vítima. Tavares foi condenado a 62 anos e três meses em regime fechado, sem direito a recorrer em liberdade.

Às 8h45min, o juiz Humberto Móglia Dutra autorizou a entrada das pessoas que, desde cedo, estavam na frente do fórum, aguardando a liberação para acessarem o salão do tribunal do júri.

Com um salão completamente lotado por familiares, amigos, advogados, estudantes de Direito e imprensa, às 8h50min, o pai de Ana Laura, que também foi vítima de tentativa de homicídio, juntamente com outros familiares, relatou que, naquela noite, estava em sua casa, onde teve um churrasco com os familiares e, depois, com o passar das horas, ficaram algumas pessoas e todos estavam na sala. Foi quando ouviram uns gritos na rua: uma pessoa pedia por socorro. "A minha filha Isabela saiu para ver o que estava acontecendo e eu ouvi gritos novamente. Saí para ver o que estava acontecendo. Foi quando a minha filha estava discutindo com um homem. E ele estava bastante alterado e tentava abrir o portão da minha casa. Nesse momento, meu sobrinho, minha irmã, meu cunhado e meu genro saíram para fora e ali começamos a segurar o portão, porque o réu estava tentando abrir", detalhou.

"Não faz isso, minha filha"
Ana Laura estava dormindo, segundo relatou o pai. "Só vi quando ela veio com o revólver na mão. E foi em direção a grade do portão. Eu gritei: 'Não faz isso, minha filha'. Quando o réu desarmou ela, eu me agarrei na mão dos dois para tentar pegar o revólver e ele começou a atirar. A minha filha, se quisesse atirar nele, tinha atirado, porque ela tinha curso de tiro", pontuou. "Queres um local mais seguro do que uma filha que está dentro da tua casa, dormindo. Ser morta na própria casa. Isso é muito triste", acrescentou.

Na sequência, foram ouvidas mais três vítimas de tentativa de homicídio, que relataram o que aconteceu na naquela madrugada. Depois, as vítimas Isabela e André foram ouvidas de forma on-line, direto de Florianópolis.

"Minha irmã nunca quis matar"
Isabela Borba contou que estava em casa quando ouviu os pedidos de socorro e saiu para ver o que estava acontecendo. Foi quando viu o réu agredindo a companheira. "Eu perguntei porquê ele estava gritando e ele começou a me ofender com palavras de baixo calão. Não fiquei quieta e retribui os xingamentos, e ele, entre as grades do portão, deu um tapa na taça que eu tinha na mão. Com os estilhaços, eu cortei o supercílio esquerdo e, como tava sangrando, fui no banheiro. Quando estava voltando para a rua, ouvi um tiro. Aí me falaram: sai daí que ele tá atirando, e só vi a minha irmã caída, sangrando pela boca. Ela saiu com o revólver para assustar ele e ver se ele ia embora. A Ana Laura nunca quis matar ele", detalhou.

Fez mira
André Couto Ferreira disse que estava dormindo e, com o barulho, acordou e viu a Ana Laura correndo. "Quando estava indo em direção a porta, ouvi um tiro e vi a Ana Laura caída, sangrando", lembrou. "O homem, ainda armado, fez mira em todas as pessoas que estavam ali naquela hora, e atirou. Eu me escondi atrás da porta e ele atirou, mas errava o alvo. Por sorte, ele não cometeu uma chacina", acrescentou.

"Olha o que tu fez eu fazer"

Pela manhã, também foi ouvida a companheira - na época- do réu, que contou que eles tinham ido em uma festa da religião deles e, quando estavam voltando, o homem começou a ofender a mulher, e a agredi-la com vários golpes na cabeça.

"Eu tentei pedir ajuda para algumas pessoas que passavam na rua, mas ninguém se meteu. Quando estávamos na frente dessa casa, saiu uma moça e eu disse: 'Me ajuda. Ele tá me batendo'. E ele começou a discutir com a moça. Eu fiquei em um canto e ouvi os tiros e vi uma pessoa caída", relatou.

Após os disparos, segundo ela, o réu saiu correndo em direção a Cohab e voltou e se ajoelhou na sua frente. "Começou a chorar e falava: 'Olha o que tu me fez fazer', e pedia para ir embora. Eu não conseguia caminhar. Estava em estado de choque. Quando ele largou o revólver na minha frente, eu peguei a arma e entreguei para um senhor que estava na casa", disse.

Na parte da tarde, foram ouvidas duas policiais civis que são lotadas na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), que atuaram no inquérito, assim como a delegada Daniela Barbosa de Borba, que foi quem comandou as investigações (na época delegada titular da Deam).

"Não saí de casa para matar ninguém"
Eram 15h10min quando o juiz Humberto Móglia Dutra, que preside os trabalhos, começou o interrogatório do réu Cristofer da Silva Tavares. O reú garantiu que a única coisa que queria fazer era pedir perdão. Falou que, naquela noite, estava voltando de uma festa da sua religião e, no caminho, ele a companheira começaram a discutir. "Eu realmente agredi com empurrões e socos. Eu não saí de casa para matar ninguém. Eu quero pedir perdão para essa família. Nunca imaginei tirar a vida de ninguém, e eu digo estou muito arrependido do que fiz. Aquela noite eu estava em uma festa de religião: não era eu que estava ali", garantiu o réu.

Ao ser questionado sobre o motivo das agrassões, ele disse que isso acontecia às vezes, quando os dois brigavam. "Na verdade ela sempre me dava pau em casa", comentou.

 
"Quando chegamos na frente da casa dessa família, veio uma mulher lá de dentro e começou a me xingar. Eu fiquei com raiva e também a ofendi com palavras de baixo calão. Eu estava muito embriagado", acrescentou.

Tavares disse que, enquanto discutia com as pessoas que estavam no portão, chegou Ana Laura. "E apontou um revólver na cara. Eu fiquei com medo e desarmei ela. Eu só atirei porque um homem apareceu e levou a mão na cintura. Eu achei que ele poderia estar armado e, por isso, atirei. Depois, eu comecei a chorar e entreguei a arma para minha ex-companheira e disse: 'Amor, olha o que eu fiz. Estraguei a minha vida'. Mas só soube que a mulher tinha morrido quando o brigadian disse: 'Cara, matasse a mulher'.

Debutando no júri
O julgamento de Cristofer da Silva Tavares marcou a estreia do juiz Humberto Móglia Dutra no tribunal do júri. Para a reportagem, o magistrado disse que era a primeira vez que iria atuar em um julgamento em Bagé ao longo de 22 anos de carreira, e que esse fato só aconteceu porque as juízas Naira Melkis Pereira Caminha e Paula Ferraz não puderam atuar nesse caso por razões particulares.

Reforço na segurança
Desde o início do julgamento, o movimento já era grande na frente do Fórum. Embora o réu não seja considerado um bandido de alta periculosidade, um grande efetivo de policiais militares realizaram a segurança na parte interna e externa do Fórum, inclusive com a presença dos cães do canil da Brigada Militar.

Salão lotado
Marcado para iniciar às 8h30min, minutos antes de abrir as portas do Fórum que dá acesso ao salão do júri, o movimento de pessoas que queriam assistir ao julgamento já era grande. Estudantes de Direito, advogados, familiares e amigos da vítima ocuparam todas as 78 cadeiras disponíveis e, no meio da tarde, o salão ficou completamente lotado, inclusive com pessoas em pé. Para que a imprensa pudesse acompanhar o julgamento, foram colocadas mais cadeiras. 

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