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Casal

Um lar encravado embaixo da ponte dos trilhos

Márcia Sousa imagem ilustrativa - fireção ilustrativa - Vista privilegiada da passagem do trem

A descida é íngreme. Lá de baixo, o homem convida: "Pode vir que é tudo limpinho". Antes de chegar onde estão, Angélica Arce Oliveira Gomes, 50 anos, e Luiz Carlos Medeiros Resende, 50, a reportagem tem que passar pelo cachorro chamado Toquinho, que está atado bem no caminho. O cão roliço, com jeito de vigia, apenas abana o rabo. O casal receptivo, que está junto há 16 anos, mora embaixo da ponte dos trilhos desde abril do ano passado. Sem dinheiro para pagar o aluguel de onde residiam , eles optaram por ir para esse lugar.

A ponta do barranco irregular tem uma vista privilegiada para a passagem do trem. Ao lado, as brasas ardem em um fogo de chão.

Mesmo em meio a penúria, o casal diz que liberdade é tudo. O homem quer permanecer ali, mas ela discorda e quer arrumar um emprego. Já foi faxineira e relata que gosta muito de cuidar de idosos. Os dois se conheceram em uma propriedade no Valente - divisa de Bagé com Aceguá. Ela era cozinheira e ele trabalhava com tambo. Os dois têm filhos de outro relacionamento. Angélica diz que os filhos dela quiseram tirá-la de lá, mas ela optou por ficar no local com o companheiro.

Questionados sobre o motivo pelo qual foram parar nesse lugar, eles respondem que foi a pandemia que os empurrou para lá. Angélica, que é uruguaia, admite que o "pessoal" responsável da Prefeitura teve mais de uma vez lá, para convidá-los a ir para o Albergue Municipal, mas eles declinaram, primeiro porque preferem a liberdade embaixo da ponte e segundo porque tiveram receio que fossem furtados os poucos pertences.

Medo da escuridão

Bem falante, Angélica recorda que, quando tiveram que sair da casa onde moravam, os dois seguiram caminhando pelo asfalto e, quando chegaram na beira da ponte, Resende falou: "É aqui que vamos ficar". Ela acrescenta: "Era a única opção para a gente".

Quando chegaram, havia muito entulho embaixo da ponte. No outro dia, começaram a limpeza do futuro lar. Como não tinham dinheiro para o frete, começaram a levar os poucos pertences com carrinho de mão e o que dava era transportado no ombro.

A uruguaia, que mora há 40 anos no Brasil, recorda que, no início, foi muito assustador. "Eu tinha medo da escuridão, não dormia toda a noite. Agora, estou acostumada".

Estilo de vida

O casal adotou um novo estilo de vida espartano. Duas hortinhas são cultivadas. Uma antes de chegar embaixo da ponte e a outra bem na entrada - ao lado de onde fica a cadela chamada Baía. O quarto é uma pequena barraca que foi montada no lugar. Logo que chegaram na ponte, eles dormiam no chão.

O mobiliário é composto por uns pedaços de sofás , uma geladeira velha, um fogão a gás, um rádio e outros itens. Tudo com asseio. Próximo ao desfiladeiro com vista para os trilhos, tem outra cadela chamada Nita. Os três cães são os vigias. "Eles são bem ativos", avisa Angélica.

Fiéis de uma igreja auxiliam o casal com gêneros alimentícios. Resende faz uns bicos e é disso que ambos vivem junto com os três cães. A água que utilizam é levada da Coxilha do Fogo.

Mesmo defendendo a vida em liberdade, Angélica reforça que quer mudar de vida e busca um emprego. Na saída, ela passa para a reportagem o número do contato dela para caso alguém queira oferecer um emprego. Uns passos mais a frente, Resende mostra um pedaço de papelão pregado no acesso ao local, escrito a caneta, com o dizer: "Já volto, seu Luiz". 

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