Saúde mental
Medo e ansiedade diante de turbilhão de acontecimentos
Reprodução FS imagem ilustrativa - fireção ilustrativa - Mundo tem acompanhado a guerra quase em tempo real pelo celular
Muitas pessoas estão lidando com crises de ansiedade, insônia e tantas outras manifestações físicas e psicológicas em meio a um turbilhão de acontecimentos. São dois anos de pandemia de coronavírus e, neste início de 2022, desastres como o de Petrópolis e o conflito entre Ucrânia e Rússia, amplamente divulgados, têm gerado ainda mais medo. A reportagem conversou com a psicóloga Dilce Helena Alves dos Santos, que destacou: é preciso estar atento ao limite para lidar com a carga, que, muitas vezes, pode se tornar excessiva. Por outro lado, Dilce explica que o medo e a ansiedade são reações naturais. O alerta é para procurar ajuda profissional quando a pessoa julgar que necessita e isso independe dos sintomas.
FS - Após dois anos de pandemia, o mundo, agora, acompanha o conflito entre Ucrânia e Rússia. É natural sentir medo, correto? Como lidar?
Dilce Helena - É uma resposta bastante natural e adequada sentir desconfortos, que vão da apreensão, irritabilidade, ansiedade e, até mesmo, medo em decorrência de qualquer notícia que a pessoa compreenda e perceba como geradora de situação perigosa. Quanto e quando que esse desconforto irá provocar é o que faz de cada ser humano um exemplar único.
Cada pessoa percebe, compreende, identifica-se e reage a uma gama infinita de circunstâncias. De modo geral, as situações que incontáveis vezes já se repetiram, gerando dor e sofrimento ao ser humano, costumam provocar uma resposta inconsciente, profunda e muitas vezes perturbadora como defesa. É o caso de conflitos, epidemias, pestes, guerras, que têm uma representação no inconsciente coletivo.
FS - Um grande número de pessoas têm enfrentado crises de ansiedade, insônia, muito pelo que acompanham da pandemia e, agora, desse conflito (fora todos os outros acontecimentos). É saudável se afastar das notícias? Como dosar para estar bem informado e manter a saúde mental?
Dilce Helena - As notícias, a história, o conhecimento tendem a trazer mais reflexão, entendimento e a possibilidade de escolha de atitudes - esses aspectos proporcionam mais serenidade e compreensão dos fatos. Entretanto, cada pessoa deve estar atenta ao seu nível de capacidade para lidar com a carga, que muitas vezes se torna excessiva, de notícias ruins, desconcertantes e/ou preocupantes.
É importante ter tempo para analisar sempre ângulos diferentes, questionar-se a respeito, e também desfocar um pouco, afinal, todo excesso é danoso, pois tende a estressar o indivíduo. A saúde mental deve ser estimulada com sensibilidade no autocuidado, através da atenção às emoções, a expressão dos sentimentos, o contato com pessoas queridas afetivamente e atenção à saúde do corpo.
Em momentos que esta espécie de equilíbrio mente/corpo e mundo externo for abalada, a pessoa deve procurar ajuda de um profissional de saúde mental. Esta procura deve atender apenas e tão somente a necessidade da própria pessoa, ou seja, não é necessária a presença de nenhum sintoma ou situação mais agravada, bastando apenas que o indivíduo deseje conversar sobre como se sente.
FS - Quando ligar o alerta para pedir ajuda para lidar com o medo, a ansiedade e afins?
Dilce Helena - O medo e a ansiedade são reações naturais de nosso aparato psíquico em contato com o mundo e seus acontecimentos. Sentir receio, perceber a presença de um evento importante ou mesmo do perigo e pressenti-lo através da ansiedade são reações que, de certa forma, indicam uma vida psíquica saudável, ou seja, que reage adequadamente aos estímulos internos e externos.
Esta constante interação e consequente resposta psíquica ocorre o tempo todo. Mesmo em tempos tranquilos, algumas pessoas estarão tensas ou preocupadas e ansiosas, logicamente, em períodos de grande intensidade, estas questões irão aflorar mais e em um número crescente de indivíduos. O sinal de alerta surge quando tais estímulos passam a ser percebidos de modo demasiadamente intensos ou a agirem de forma estressora por sua gravidade, persistência e intensidade.
Estas reações costumam perturbar a vida cotidiana como um todo, trazendo prejuízos à rotina de trabalho, sono, alimentação, interação social, etc. A percepção deste desequilíbrio ou desconforto deve ser associada à procura por ajuda profissional qualificada - psicólogo clínico, psiquiatra, rede de atenção psicossocial (CAPs).
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