Quando os ponteiros do relógio marcaram 7h nessa terça-feira, 100 agentes da Polícia Federal de Bagé deflagraram a Operação Carga Blanca - para desarticular uma organização criminosa estabelecida na fronteira com o Uruguai. O crime era praticado por donos de lojas de auto-peças, eletrônicos, de uma rede de postos de combustíveis e um mercado. A prática era de crimes financeiros como lavagem de dinheiro, evasão de divisas e câmbio clandestino.

Os policiais federais cumpriram 14 mandados de prisão e 20 de busca e apreensão em Bagé e Aceguá, além da execução de ordens judiciais para sequestro de 17 veículos e bloqueio de 19 contas bancárias.

O delegado da Polícia Federal, Márcio Teixeira, contou que as investigações começaram em 2018 para apurar a prática de câmbio clandestino na região, onde foi identificada uma organização criminosa estruturada para troca de dinheiro, remessas para o exterior e lavagem de capitais. O esquema contava com práticas sofisticadas de dólar-cabo e cash courier (carregamento de dinheiro em espécie).

O grupo investigado utilizava negócios aparentemente lícitos como, por exemplo, postos de gasolina, mercados, comércio de autopeças e com pessoas com aparente capacidade financeira para justificar o giro e o grande volume de dinheiro.

Mais de R$ 38 milhões

A investigação apurou que, em cinco anos, a movimentação financeira foi de aproximadamente R$ 38 milhões - valores de diversos Estados do Brasil foram encontrados em benefício dos investigados, inclusive de regiões de fronteira com o Paraguai, Estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, indicando que, possivelmente, tenham origem em atividades ilícitas como tráfico de drogas, contrabando e descaminho.

Os investigados poderão ser responsabilizados por organização criminosa e crimes financeiros como evasão de divisas, câmbio clandestino e lavagem de dinheiro.

Presos e dois foragidos

O delegado relatou que, durante os mandados de buscas e apreensão em diversos pontos da cidade, os policiais encontram uma quantia em dinheiro, inclusive guardado em fundo falso de um quadro e dentro de um cofre. Teixeira disse que, dos 14 mandados de prisão, 12 pessoas foram presas e, durante a ação, não apresentaram nenhuma reação. Segundo ele, a maioria das prisões aconteceram em Bagé e algumas em Aceguá. Todos levados para o Presídio Regional de Bagé. Dois estão foragidos. Os nomes não foram revelados pela Polícia Federal.

"Estamos para aqui para apoiar"

O Superintendente da Polícia Federal no Rio Grande do Sul, Aldronei Antônio Pacheco Rodrigues, disse que é um marco esse tipo de operação na região. Segundo ele, há muito tempo não se tinha uma ação dessa natureza . "Por esse motivo estamos aqui em Bagé hoje (ontem) para acompanhar e apoiar esse tipo de ação, pois se sabe que não é uma ação isolada, que acontece em outros municípios de fronteira e que há outras organizações criminosas envolvidas. Nós estamos com uma atenção para esse tipo de crime, que, além guarnecer outros crimes, provoca um prejuízo financeiro ao país", falou.

Carga Blanca

A operação foi denominada Carga Blanca, pois uma das formas de movimentar os valores ilícitos era com o carregamento de dinheiro em espécie, vinculado à lavagem de capitais, também conhecido como branqueamento.