História
Bageense viveu no epicentro da Lava-Jato
Reprodução FS imagem ilustrativa - fireção ilustrativa - Jardim (esquerda) conduz o então presidente da Petrobras, Nestor Cerveró, para o aeroporto
De 2014 a 2018, o policial aposentado da Polícia Federal, Silvio Jardim, conviveu com medalhões da política e com empresários de grandes corporações, presos pela Lava-Jato. O bageense, que mora há 42 anos em Curitiba, foi um dos agentes que fez a segurança de nomes como o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e o então presidente da Odebrecht - uma das maiores empresas de engenharia e construção da América Latina -, Marcelo Odebrecht.
O rosto do bageense, que fez curso em Israel, foi estampado em manchetes da imprensa nacional, ao lado de figurões presos, nessa que foi a maior investigação sobre corrupção realizada no Brasil. A força-tarefa cumpriu mais de mil mandados de busca e apreensão, prisão temporária, prisão preventiva e condução coercitiva, e descobriu um megaesquema de corrupção na Petrobras, envolvendo políticos de diferentes partidos e outras empresas públicas e privadas.
Lula e a aposentadoria
Em 2018, o ex-presidente da República e atual mandatário do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), foi preso pela Lava-Jato. A prisão mobilizou uma legião de apoiadores do petista país a fora. Lula foi levado de São Paulo para Curitiba para cumprir pena na Superintendência da Polícia Federal. “Foi um dia especialíssimo. Jamais esperávamos que isso fosse acontecer, mas somos profissionais e estamos prontos para tudo”, contou o ex-policial para a reportagem do Folha do Sul, no hotel Dallé, onde se hospedou em Bagé. Ele concedeu a entrevista no sábado.
O bageense passou uns dias na terra natal, onde visitou parentes e amigos e participou da formatura de uma sobrinha.
Jardim não teve contato com Lula (salvo o contato visual). Ele recordou que, no dia da chegada do preso mais importante da Lava-Jato, em Curitiba, foi preparado todo um aparato, onde três camburões foram para o Aeroporto Internacional Afonso Pena para espera-lo. Mas, como no final da tarde, em razão do tempo, a cidade fica sem teto para pouso, Lula foi do aeroporto de helicóptero direto para a sede da Superintendência da Polícia Federal. Uma semana depois da chegada de Lula em Curitiba, saiu a aposentadoria de Silvio Jardim.
Para os olhos do mundo
Silvio Jardim fez concurso para a Polícia Federal, em Bagé, no ano de 1979. Na academia, em Brasília, podia escolher onde iria trabalhar e como não havia vagas em Porto Alegre, ele optou por Curitiba. Foi na capital do Paraná que casou e teve três filhos. Apaixonado por Bagé, contou que sempre está acompanhando as notícias da terra natal. Jardim atuou por 38 anos na Polícia Federal.
E foi por trabalhar no núcleo de operações da PF do Paraná que o bageense foi parar no epicentro da Operação Lava-Jato. Ele relatou que a parte policial atuava na segurança e condução dos presos para os presídios, aeroporto e para serem ouvidos nas audiências. “Eu sempre digo: foi um presente que a vida me deu participar desse momento histórico da vida do país, com seriedade, dedicação e profissionalismo que todos os policiais federais conduziram essas atividades. Me aposentei com chave de ouro”, falou.
Jardim mencionou que nunca imaginou ser policial, mas que, se pudesse, faria tudo de novo. “Estar no epicentro da Lava-Jato foi um privilégio”, acrescentou.
Na conversa, o bageense reforçou que jamais imaginou passar por isso. Relatou que não tem queixa de ninguém - que os policiais foram tratados com respeito. “Foi uma experiência sensacional. A gente andava na rua e as pessoas batiam palmas para nós. Foi uma coisa inusitada”, lembrou.
Jardim disse que foram quatro anos (2014 a 2018) intensos, com dedicação exclusiva para a Lava-Jato.
Presos calados
Ao ser indagado sobre os bastidores da Lava-Jato, Jardim respondeu que, normalmente, durante o trajeto, os presos se mantinham calados e, quando tentaram conversar algum coisa, os policiais desconversaram. “Afinal de contas, estávamos ali trabalhando e não tinha motivo para entrar no mérito das questões que estavam acontecendo. Claro que a gente ouviu de tudo um pouco, mas são questões reservadas que temos que guardar para a gente”, disse.
Os presos da Lava-Jato iam para Curitiba do Rio de Janeiro e São Paulo. Os policiais iam buscá-los no aeroporto e levá-los para a Superintendência da Polícia Federal ou para o Complexo Médico Penal de Pinhais.
De acordo com o bageense, nenhum dos presos deu problemas. Segundo ele, foi um trabalho tranquilo para a polícia, porque eram pessoas que estavam vivendo uma situação completamente inusitada para elas também. “Estavam surpresas com aquilo que estava acontecendo. Não fizeram nenhum ato que exigisse uma atitude mais firme da gente”, ponderou.
Bafo de esperança
Jardim destacou que o que mais o marcou da Lava-Jato é o sentimento da população brasileira, que passou a acreditar que, para a Justiça, quem pratica algum delito será responsabilizado como qualquer cidadão, independente de sua classe social . “A Lava-Jato foi um bafo de esperança na população brasileira, que, vendo aquelas figuras proeminentes da sociedade sendo detidas e respondendo processo judicial pela sua conduta, viu que qualquer um pode responder. Foi um momento que o povo se viu representado pela Justiça e foi realmente um trabalho muito sério. Tenho muito orgulho de ter feito”, pontuou.
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