Final de ano
Psicólogo aborda como lidar com o sentimento de melancolia
iStock imagem ilustrativa - fireção ilustrativa - Muitos se sentem tristes em meio às luzes e celebrações
O final de ano é uma época marcada por celebrações, festas e momentos de confraternização, mas para muitas pessoas, esse período pode ser um desafio emocional. O psicólogo Marcelo Motta aponta que, em geral, tanto o Natal quanto o Ano Novo despertam sentimentos mistos e ambíguos. Por vezes, é uma época de introspecção e reflexões sobre o ano que passou. Para quem está enfrentando um momento difícil, o clima de festividades pode intensificar sentimentos como a tristeza, o que torna o processo de lidar com as celebrações ainda mais complexo.
Motta explicou que o Natal, por ser uma festa tradicionalmente familiar, pode despertar melancolia. Acontece que muitas pessoas sentem tristeza no Natal devido à perda de familiares ou aos conflitos internos em suas famílias. "Não tiro férias em dezembro e janeiro por causa disso, porque as pessoas acabam ficando mais melancólicas, mais tristes", comentou. Além disso, a pressão para se mostrar feliz nas redes sociais, vendo fotos de viagens e encontros de famílias "perfeitas", pode gerar um aumento da sensação de inadequação e solidão. "Tem a questão das redes sociais, que potencializam muito, acabam atrapalhando muito o desenvolvimento das pessoas. Eu olho na internet, no Instagram, as pessoas viajando, com suas famílias pseudo felizes, e eu acabo me comparando. Isso acaba gerando ainda mais melancolia", elucidou.
Tempo de esperança
Já o Ano Novo traz consigo uma sensação de renovação, novas metas e oportunidades. Para muitas pessoas, é um momento de criar expectativas para o futuro. "É um momento em que, de certa forma, as pessoas criam perspectivas para o próximo ano, acabam fazendo suas listinhas. E eu indico muito que façam uma listinha das coisas que desejam para o próximo ano", pontuou. Motta ressaltou que a esperança que surge nessa época pode ser um bom combustível para mudanças, mas também alerta para o perigo de uma “esperança burra”, em que se espera que as coisas melhorem sem tomar ações concretas.
"Eu sou um fã da esperança. Só não podemos ser fãs da esperança burra, infantil, de que as coisas vão dar certo sem eu fazer nada. Não, as coisas vão dar certo se eu me mexer, se eu tentar melhorar. Mas a esperança, por si só, é um sentimento bom", enfatizou. Ele sugeriu, ainda, que cada pessoa faça uma reflexão sincera sobre o ano que passou, avaliando o que foi positivo, os obstáculos enfrentados e o que não deu certo. "Quem fica mais melancólico, acho importante fazer um balanço de como foi o ano, das coisas que foram positivas, do que a gente conseguiu e o que não foi, e por que não deu certo. Pensar... Sei que, na correria, a gente não faz isso. Nós estamos nos colocando nessa época, mas é importante a gente parar, fazer esse feedback com a gente mesmo, fazer essa avaliação", sustentou.
"Esse parar para pensar é muito importante. Ajuda muito no autoconhecimento, ajuda a avaliar, refletir sobre o que a gente pode fazer. E muita coisa, talvez a maioria, está no nosso alcance fazer alguma coisa", defendeu. Uma dica valiosa do psicólogo é o "potinho da gratidão", uma prática simples que consiste em escrever tudo o que aconteceu de positivo durante o ano e guardar em um pote. No final do ano, ao reler essas anotações, é possível resgatar o valor das pequenas vitórias e relembrar os momentos bons, muitas vezes esquecidos no dia a dia. "Eu gosto muito do potinho da gratidão. Durante o ano, tudo o que acontece de positivo eu escrevo e coloco no potinho. E, no final do ano, eu leio o que eu coloquei, porque, às vezes, a gente esquece. Gosto dessa dinâmica para lembrar, porque a gente tem a tendência de esquecer as coisas boas", detalhou.
Tempos difíceis
Em tempos difíceis, como em casos de doença, perda de alguém querido ou qualquer outro tipo de sofrimento, Motta orientou que não se deve se forçar a estar feliz só porque é esperado. Ou seja, não há problema em não estar bem. É importante reconhecer os próprios sentimentos, sem se cobrar para entrar na mesma energia das pessoas ao redor. "Há pessoas passando por situações não tão felizes. E realmente não tem como elas estarem felizes neste momento. Não tem como, não adianta forçar. Não dá para a gente se forçar a estar nessa energia. É normal eu não estar bem, é normal ter momentos não tão felizes. Em uma situação de doença, de perda, ou qualquer outra situação, não tem como estar na mesma vibração das pessoas que estão empolgadas", argumentou.
Quem faz bem
O psicólogo sugeriu que, em vez de se forçar a estar em um ambiente ou situação que não traz conforto, as pessoas devem dar espaço para os seus sentimentos e entender que é natural não se sentir alegre o tempo todo. Além disso, o psicólogo aconselhou que as pessoas busquem estar perto de quem realmente faz bem, como amigos ou familiares que ofereçam apoio e conforto. Estar em ambientes acolhedores pode ajudar a reduzir a melancolia e proporcionar um maior equilíbrio emocional. "Se eu não me dou bem com a minha família, por que vou me colocar nesse lugar? Estar perto de pessoas que eu gosto é importante, estar com meus amigos. Isso tudo ajuda muito para não ficar potencializando a melancolia", enfatizou.
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