BAGÉ WEATHER

Análise: emendas parlamentares derrubam ministro das Comunicações

Continuação da matéria de ontem nesta coluna. Hoje, transcrevo matéria do jornalista Luiz Carlos Azedo. Leia:  

O caso de Juscelino é apenas a ponta de um iceberg na Câmara dos Deputados, para a qual o ministro volta, com as prerrogativas de imunidade parlamentar. Juscelino é acusado de ter desviado recursos no montante de R$ 5 milhões para a cidade de Vitorino Freire. O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, decidiu pedir demissão do cargo após ser denunciado por corrupção pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Suspeito de participação em esquema de desvio de verbas, a situação do ministro na Esplanada se tornou insustentável, ainda mais porque já estava exposto a desgastes desde quando foi indiciado pela Polícia Federal no ano passado. À época, ele acusou a PF de realizar uma "ação política" e questionou as ações da corporação.  

Juscelino é acusado de ter desviado recursos públicos no montante de R$ 5 milhões para a cidade de Vitorino Freire, no Maranhão, cuja prefeita é a irmã dele, para asfaltar uma estrada que dá acesso a propriedades da família. A PF também apontou fraude na licitação para fazer a pavimentação.  

Ontem, a PGR enviou a denúncia ao gabinete do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do caso. A situação criou um enorme constrangimento para o governo. O ministro nega qualquer irregularidade. Gato escaldado por causa da Lava Jato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anda no fio da navalha quando surge alguma denúncia contra um de seus ministros. De um lado, faz uma veemente defesa do direito à presunção de inocência dos investigados, o que o impede de demiti-los de pronto; de outro, o tema da ética é uma das questões mais sensíveis para seu governo, para o qual qualquer escândalo de corrupção pode ser fatal do ponto de vista da imagem, devido à memória do mensalão e da Lava Jato.  

A ministra das Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, e o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, já estão negociando a substituição de Juscelino na pasta. O indicado pela legenda é o líder do União na Câmara, deputado Pedro Lucas Fernandes (MA). Hoje, provavelmente, a saída do ministro será formalizada com o rito tradicional: deixará o cargo para cuidar da própria defesa.  

O caso de Juscelino é apenas a ponta de um iceberg na Câmara dos Deputados, para a qual o ministro volta, com as prerrogativas de imunidade do mandato parlamentar, entre as quais o direito ao sigilo das investigações.  

As apurações sobre emendas parlamentares no Brasil decorrem de suspeitas de desvio de recursos públicos, corrupção, favorecimento político e mau uso do dinheiro destinado a obras e projetos nos estados e municípios. São emendas propostas por deputados ou senadores, geralmente para seus redutos eleitorais. No caso do chamado orçamento secreto (RP9), descobriu-se que bilhões de reais em emendas de relator eram distribuídos sem critérios públicos claros, favorecendo aliados do governo. Há várias operações em curso, envolvendo dezenas de parlamentares.  

As investigações  

Em 3 de abril de 2025, a PF, em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU), deflagrou a terceira fase da Operação Overclean. Foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão em Salvador, São Paulo (SP), Belo Horizonte e Aracaju. A investigação apura um esquema de corrupção e desvio de R$ 1,4 bilhão em recursos públicos, envolvendo superfaturamento de contratos e fraudes em licitações relacionadas a prefeituras e ao Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Os crimes teriam ocorrido entre 2018 e 2024 e envolvem pessoas ligadas a oito partidos políticos: MDB, PP, PSD, PSDB, PT, Republicanos, Solidariedade e União Brasil.  

A Operação EmendaFest, deflagrada em 13 de fevereiro de 2025, investiga desvios de recursos públicos provenientes de emendas parlamentares destinadas a um hospital no Rio Grande do Sul. Foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão e dois de busca pessoal. Entre os alvos, estão Cliver André Fiegenbalfm, diretor administrativo e financeiro da Metroplan, e Lino Rogério da Silva Furtado, secretário parlamentar do deputado federal Afonso Motta (PDT-RS). Ambos foram afastados de suas funções públicas.  

Essas investigações geraram um impasse entre o Supremo e os líderes do Congresso, depois que Flávio Dino, às vésperas do Natal do ano passado, determinou a suspensão do pagamento de 5.449 emendas de comissão, que somam R$ 4,2 bilhões do Orçamento da União, por falta de transparência. Diante da suspeita de irregularidades nas emendas, o ministro determinou a abertura de investigação pela Polícia Federal. A aprovação do Orçamento da União foi suspensa até que se chegasse a um acordo com relação aos critérios de transparência para distribuição das emendas.  

Em março de 2025, o Congresso Nacional promulgou a Resolução 1/25, estabelecendo novas regras para a apresentação e indicação de emendas parlamentares ao Orçamento. Entre as principais alterações estão a obrigatoriedade de atas públicas das reuniões que decidem sobre as emendas e a exigência de justificativas detalhadas para as emendas de comissão e de bancada estadual. Essas ações refletem um esforço contínuo para aumentar a transparência e a fiscalização no uso das emendas. 

Em segredo de justiça, os ministros Flávio Dino e Cármen Lúcia são responsáveis pelo maior número de inquéritos, com três casos sob a relatoria de cada um. Os ministros Luiz Fux, Nunes Marques e Cristiano Zanin relatam dois inquéritos cada, enquanto o ministro Gilmar Mendes é responsável por um inquérito sobre corrupção em emendas no Ceará. 

O andar da carruagem vai nos dizer se as melancias irão se acomodar. Em pré-ano eleitoral, tudo pode acontecer. Ainda mais que o ministro Dino "é do mar" e não enjoa. Que tal para ano pré-eleitoral? Agora sim eles se acertam. Concordam? 

DURMAM COM UM BARULHO DESTES Anterior

DURMAM COM UM BARULHO DESTES

PGR denuncia ministro por corrupção Próximo

PGR denuncia ministro por corrupção

Deixe seu comentário