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Entrevista

Profissional fala sobre saúde mental em ano desafiador

Reprodução/Facebook imagem ilustrativa - fireção ilustrativa - Dilce orienta a atenuar os excessos

O final do ano chega e, para muitos, este é um período de introspecção e até melancolia. É claro que há aqueles que estão focados nas festas e em todas as outras tradições, como a ceia, a troca de presentes e, no Sul, o churrasco de domingo. Mas é preciso estar atento aos sentimentos em um ano tão desafiador, que muitos definiram como o de retomada após as fases mais críticas da pandemia de covid-19. A reportagem conversou com a psicóloga Dilce Helena Alves Aguzzi, que avaliou o ano, e também falou sobre estes períodos de Natal e Ano Novo.

FOLHA - Quanto a saúde mental, o ano que muitos definiram como o de retomada foi de muitos desafios? Quais?

Dilce - O ano de 2022 foi desafiador tanto pelo pós-pandemia como pelos resultados deixados por ela e a forma como conseguimos enfrentá-la. Voltar ao convívio, os traumas das mais diferentes vivências e, principalmente, os atrasos resultantes da falta de convívio. Crianças e pessoas idosas foram os maiores prejudicados pelo isolamento social.

Sendo assim, manter-se saudável mentalmente foi bastante desafiador, tendo em vista que muitos fatores antes banais passaram a ser ansiogênicos para uma boa parte da população.

FOLHA- Muitas pessoas ainda lidam com as consequências psicológicas de um período tão turbulento como foi o da fase mais crítica da pandemia? Quais são as principais?

Dilce - Na fase mais crítica da pandemia, os maiores sintomas emocionais estavam relacionados a temores de modo geral a respeito da própria saúde e de famíliares, e também sobre aspectos econômicos e de subsistência, além disso a angústia de separação típica do isolamento.

Ansiedade, depressão, fobia social, inabilidade social e problemas de auto-estima estão no topo da lista de motivação por busca de acompanhamento psicológico.

FOLHA - O final de ano chega e o período que para muitos é sinônimo de festas e celebrações, para outros é de introspecção, melancolia e tristeza. Como lidar com esses sentimentos, sobretudo neste momento?!

Dilce - Eu trabalho com psicologia clínica há 25 anos e sempre esta data de final de ano abala bastante o emocional da população. É um período que tem muita procura por atendimento e orientações.

O Natal, por ser uma data muito relacionada a memórias afetivas familiares, acaba por movimentar emoções, lembranças, fantasias, sonhos, nem sempre a pessoa está num momento de vida estruturado para lidar com esses conteúdos, ou seja, em momentos onde estamos mais frágeis é mais difícil lidar com lembranças dolorosas ou boas memórias com pessoas que já se foram, por exemplo.

Já o ano novo nos remete a sonhos e planos e também a fazer uma avaliação de como nos saímos no período que se encerra. Pessoas muito ansiosas ou muito exigentes tendem a se cobrar mais e ficarem mais tensas e incomodadas neste período.

A dica para lidar com esses momentos é: não se isole, busca companhia de sua confiança, fale sobre seus sentimentos com pessoas queridas, troque opiniões e sentimentos. E, se o desconforto persistir, procure por auxílio profissional.

Permita-se sentir desconfortável ou sensível se assim estiver nestas datas. Não há nada de errado nisso. O importante é poder sentir, expressar e perceber o que esses sentimentos apontam e como fazer para se sentir melhor. Manter a esperança: fases ruins passam e se nos ajudarmos passam mais rápido ou de forma menos dolorosa.

FOLHA - A chegada de um novo ano representa esperança para uma parcela, mas também gera angústia e medo, por vezes até desesperança. O que é possível fazer para chegar a um equilíbrio?! Quando é preciso ligar o alerta e buscar ajuda profissional diante desses sentimentos?

Dilce - O novo é felicidade para alguns e temor mesmo para outros. É crucial buscar se conhecer e se compreender para só aí a seguir entender qual será o próximo passo. O equilíbrio em si é impossível de se atingir, mas podemos tê-lo como ideal norteador de nossas ações ao longo da nossa evolução.

Buscar uma qualidade de vida, atenuar os excessos, cuidar da saúde do corpo e da mente, manter a mente ocupada e o espírito com propósito. Cultivar a gratidão pelas coisas boas e buscar aprender as lições a partir dos próprios erros e os dos outros. Perdoar a si mesmo e cultivar o hábito de dar-se o direito de errar.

O sinal de alerta pode ser diferente para cada pessoa, mas a intensidade do sentimento já é o ponto ideal para buscar ajuda. A persistência do desconforto por período maior que 90 dias também, além disso o principal sintoma a se destacar é o isolamento social e mudança de hábitos.


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