A suba no preço dos alimentos tem um novo vilão: o ovo. A alta de 60% em um mês se dá por conta da baixa oferta no mercado interno e da demanda aquecida, além da gripe aviária nos Estados Unidos, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP (Cepea). A previsão é de que o valor continue acima até a Quaresma, momento em que o consumo de proteína aumenta.  

Em dias de promoção - isso há pouco mais de uma semana -, 30 ovos podiam ser adquiridos por uma média de R$ 15 a R$ 17; na quarta-feira, 19, a mesma quantidade - também em oferta -, estava à venda por R$19,99. Um dia antes, fora da promoção, 30 ovos saiam por pouco mais de R$ 25. Os preços foram observados no mesmo supermercado nessas duas últimas semanas. 

O estudante Róger Nobre, 20 anos, comentou que o aumento do preço da cesta básica tem causado dificuldades para as pessoas conseguirem fechar o “rancho” mensal. “O quilo do café está caro, do arroz, do feijão... E notei que o ovo subiu também, principalmente na última semana. Isso tem me preocupado, principalmente em relação às pessoas com menor renda. Algumas precisam escolher entre pagar as contas ou se alimentar”, observou. 

A empresária Eliane Martins, 55 anos, afirmou que acompanha pelas notícias o aumento do preço do ovo. Porém, destacou também que o aumento dos preços dos alimentos é geral. Ou seja, não está restrito apenas aos ovos e ao café, os mais noticiados.  “Cada vez que a gente vem, os preços estão mais altos. Mas a gente tem que consumir igual”, lamentou. 

O empresário Lindonor Peruzzo explicou que, no atacado, os ovos subiram cerca de 35% “por conta do aumento da exportação causado pela gripe aviaria nos Estados Unidos, onde tiveram que eliminar milhões de galinhas”. E ele projetou: “Se seguir o aumento da exportação, a tendência é de mais suba”. Segundo Peruzzo, todo o percentual de aumentou ainda não foi repassado para os clientes, uma vez que a rede, por exemplo, ainda conta com estoque adquirido pelo preço antigo. 

Motivos 

Segundo o economista Eduardo Mauch Palmeira, da Unipampa, o aumento do preço dos ovos e dos alimentos em geral é resultado de uma combinação de fatores econômicos, climáticos e produtivos.  

“As galinhas poedeiras são alimentadas principalmente com milho e farelo de soja, que representam grande parte do custo de produção. O preço desses grãos tem variado bastante devido a fatores como problemas climáticos, que reduzem a produção, alta demanda do mercado internacional, principalmente da China, e câmbio desfavorável: quando o dólar sobe (maneira popular de dizer que nossa moeda está desvalorizada) os preços dos grãos aumentam, pois o Brasil exporta boa parte da produção”, explicou. 

Além disso, lembrou, o clima tem afetado tanto a produção de grãos quanto a produtividade das aves. Isso se dá pelo fenômeno El Niño que nos anos de 2023 e 2024 causou secas e enchentes, prejudicando safras e impactando a criação das aves. 

A alta dos custos com combustíveis também reflete no preço final, apontou o profissional, assim como o armazenamento e a refrigeração -  o aumento da tarifa de luz acaba encarecendo a produção. 

“O ovo é uma alternativa mais barata à carne, então, em momentos de crise econômica e perda de poder de compra, mais pessoas recorrem a ele, elevando a demanda. Com a alta procura, os preços sobem, especialmente em períodos como a Quaresma, quando o consumo de ovos aumenta”, ressaltou Palmeira.  

Gripe aviária 

A gripe aviária está afetando criações mundialmente, o que gera restrições que influenciam na oferta. Só no Brasil, entre 2022 e 2024, foram registradas 3.130 suspeitas de Síndrome Respiratória e Nervosa das Aves e 166 focos do vírus da Influenza Aviária. As medidas sanitárias e vacinas também encarecem a produção. 

Porém, a variação dos preços também pode ser influenciada por quem controla a oferta. “A expectativa de novos aumentos pode fazer com que os produtores segurem parte da produção, elevando ainda mais os preços”, disse o economista. 

O aumento do preço dos ovos e também dos alimentos em geral está refletindo um conjunto de fatores interligados. “Desde a alta dos insumos até questões climáticas e demanda crescente, a variação de preços ocorre por uma cadeia complexa de eventos. A tendência é que os valores continuem flutuando, dependendo das safras agrícolas, do câmbio e das condições do mercado global”, concluiu Palmeira.