A política não para nunca, ano pré-eleição

Matéria interessante li ontem (dia de Ogum ou São Jorge). Ninguém quer ceder espaço para adversários, mesmo estando ‘coligados’ com o governo atual. Então leia a matéria publicada ontem no Correio Braziliense (CB):
“Análise: líder do União Brasil desiste de ser ministro e fragiliza governo Lula.”
O episódio é um aviso ao presidente Lula de que precisa abrir bem os olhos, porque seu governo é um arquipélago político que perde poder de atração. Lula pode considerar desrespeitoso o comportamento de Pedro Lucas, mas o fato é que a legenda tem um pré-candidato à Presidência: o governador Ronaldo Caiado, de Goiás.
O Arquipélago de Abrolhos é um tesouro natural localizado na costa da Bahia. São cinco ilhas principais e muitos pequenos recifes à flor da água, um santuário marinho de incrível biodiversidade e beleza cênica, frequentado por baleias-jubarte em lua de mel. Seu nome tem origem nos perigos dos corais e rochas submersas, que dificultam a navegação e já causaram muitos naufrágios. O nome Abrolhos veio de uma anotação da carta de navegação de Américo Vespúcio. Quando, em 1503, passou por essa região, escreveu: "Quando te aproximares da terra, abre os olhos".
Um dos naufrágios aconteceu com o padre José de Anchieta (Cartas, Informações, Fragmentos Históricos e Sermões, Ed. Universidade de São Paulo). O jesuíta viajava em companhia de outros padres, de Salvador para São Vicente, em duas naus. Na noite de 20 para 21 de novembro de 1560, uma tempestade surpreendeu a missão nos Abrolhos. A embarcação de Anchieta ficou bastante danificada e a de Leonardo Nunes, outro sacerdote, foi inteiramente perdida.
Outros naufrágios foram registrados no arquipélago: Loide 19, em 1950; Stachound, em 1943; Rosalina, em 1939; Arthemis, em 1932; Santa Catarina, em 1914; Elmete, em 1895; Nossa Senhora dos Prazeres Menor, Prinz Willem, Provintie van Uytrecht, Santa Rita, Santiago, Santo Antônio de Pádua e São João Baptista, em 1631. Afundado pelos ingleses na Primeira Guerra Mundial, o navio alemão Santa Catarina, achado há apenas sete anos, virou um dos pontos de mergulho mais populares do país.
Diria um navegante português: mas que raios isso tem a ver com o líder do União Brasil, deputado Pedro Lucas (MA), que não aceitou o cargo de ministro das Comunicações do governo Lula?
O parlamentar do Centrão chegou a ser anunciado pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, como substituto de Juscelino Filho (União-MA), que pediu demissão da pasta após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por desvio de recursos de emendas parlamentares ao Orçamento da União.
O episódio é um aviso ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que precisa abrir bem os olhos, porque seu governo é um arquipélago político que perde poder de atração. Os políticos aliados do Centrão temem um naufrágio eleitoral nas eleições de 2026. Esse sintoma explica o desinteresse em fazer parte da equipe ministerial, por exemplo, dos ex-presidentes da Câmara Arthur Lira (PP-AL) e do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A presença de Lira e Pacheco no governo seria natural depois de deixarem os respectivos cargos. Entretanto, nenhum dos dois foi formalmente convidado por Lula, ao contrário de Pedro Lucas, que chegou a aceitar o convite. Indicado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), porém, o parlamentar foi pressionado pela bancada da Câmara e pelo presidente da legenda, Antônio Rueda, a não aceitar o cargo.
Uma esnobada dessa ordem corrobora a analogia com Abrolhos: a Esplanada está fragmentada, com os ministros aliados, cada um cuidando do seu quintal, sem compromisso com a coesão do governo e sua governabilidade. Não se trata nem de compromisso com o projeto de reeleição do presidente Lula — é com a governabilidade.
“Lula pode considerar desrespeitoso o comportamento de Pedro Lucas, mas o fato é que a legenda tem um pré-candidato à Presidência: o governador Ronaldo Caiado, de Goiás. Apesar de o União Brasil ocupar três ministérios (Comunicações, Integração e Desenvolvimento Regional e Turismo), o gesto de Pedro Lucas mostra que o partido está se afastando cada vez mais do governo. Muito embora o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que havia indicado Pedro Lucas, seja um aliado de Lula.”
Voltei. Em política dinâmica, como diria o Jorge Valmor, o que sempre está em jogo é o poder. E, para chegar lá, vale tudo. Mas tudo mesmo. Ou não?
Deixe seu comentário