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Lideranças falam sobre os desafios de fazer teatro em Bagé

Reprodução FS imagem ilustrativa - fireção ilustrativa - Gladimir Aguzzi também dá aulas de teatro

O teatro é uma das formas mais antigas de expressão artística e tem sido uma parte importante da cultura humana há séculos. Desde os tempos antigos, as pessoas se reuniam para assistir a apresentações teatrais que contavam histórias, transmitiam valores e crenças e proporcionavam entretenimento e diversão. O Dia do Teatro é celebrado em todo o mundo no 27 de março. Para marcar a data, a reportagem fez a mesma pergunta para três pessoas que fazem teatro na Rainha da Fronteira. "Como é fazer teatro em Bagé? Quais são os principais desafios?".

Gladimir Aguzzi garantiu: "Depende. Quem quer fazer faz em qualquer tempo e situação". Também questionou o que falta. "Falta tudo. Incentivo. Fazer as crianças conhecerem o que é teatro. Promover espetáculos na cidade. Trazer espetáculo. E falta um teatro de verdade, com palco, camarim e plateia decentes". Se há valorização por parte do público? Aguzzi foi enfático ao garantir que "o público não valoriza porque não tem".

Michel Godinho ponderou que fazer teatro em Bagé por 30 anos "é sempre transformador", e definiu a prática como um gostoso desafio. "Ir ao encontro do público, que gera expectativa por mais manifestações artísticas de artistas locais, sempre enaltece a vontade de coexistir em uma cidade tão cultural", justificou. "Gosto de Bagé por esta ótica clássica de ainda cultivar o interesse por espetáculos assim. Os Carlitos sempre foram felizes neste sentido e a plateia encontra a si mesma nos textos encenados e, ao fim das contas, há uma troca, onde todos doam um pouco de si pela arte do palco, do encanto, do ser ator", acrescentou, sobre sua experiência.

Sobre as perguntas, ponderou: "As dificuldades sempre vão ao encontro do tão sonhado teatro municipal para que funcione com este propósito único, inclusive trazendo grupos de fora, como forma de fomentar plateia também para os grupos locais e também no amplo sentido de nos manter em cartaz por mais tempo". Godinho enfatizou que há artistas, apoiadores, local para os ensaios e aulas de oficinas preparatórias, "onde nasce outro ponto forte sobre alunos com sede de seguir atuando". Contudo, para por aí. "Muitos precisam ir embora e estudar fora, e acredito que em Bagé caberia um faculdade de Artes Cênicas", opinou, ao enfatizar que seguirá lutando e acreditando no fazer teatro.


“Porta-voz de um tempo”
Sávio Machado, dos Bufões da Rainha, sustentou que "o fazer é prazeroso quando nossa opção foi por uma linguagem universal, orgânica e de alcance popular". E completou: "Reunir grupos que possam contar estórias, transformar o verdadeiro no lúdico, exercitar a imaginação e fazer do texto um ato reflexivo". Ele argumentou que quem faz teatro é porta-voz de um tempo. "Representar o ofício dos autores locais, com a escolha de textos literários que falem da nossa grandeza como região de vasta produção cultural, usando técnicas do teatro moderno para educar e formar plateias", ponderou.

Sobre as demais perguntas do Folha, ele mencionou que a direção artística dos Bufões optou por não depender do "palco italiano" para encenar seus roteiros. "Isso faz nossa trajetória desafiadora. Buscar espaços alternativos e que tenham relações com a vocação de reunir plateias para o exercício do ouvir e ver", justificou.

"Essa característica é sempre com a intenção de não estagnar, de não deixar de fazer", acrescentou, ao pontuar que um ciclo se construiu usando os espaços de museus, igrejas, praças, livrarias, salas de exposições, tablados em CTGs, interiores de residências, ruas e avenidas, como no desfile temático Farroupilha e na beira da lagoa no histórico espaço natural da Pousada do Sobrado. Em tal espaço foi montado o cenário original de um churrasco campeiro para o texto regional do poeta bageense Altair de Borba, por exemplo, que foi apresentado a um grupo de turistas.


Acabou o protagonismo
Sobre o público, Machado garantiu: "Foi nosso estopim para tantas incursões pelos espaços de acolhimento do nosso repertório. Formou-se plateias cativas desde a estreia com MARIARIA, no Teatro da Escola Estadual XV de Novembro, que continua fechado e sem alma". Ele mencionou o que definiu como esfacelamento de alguns pontos referências das artes cênicas bageenses o responsável pela perda do "protagonismo que até então tínhamos em alto nível".

A fala fez referência ao encerramento das atividades do Centro de Artes da FAT/FUNBA, incluindo o Departamento de Artes Dramáticas; ainda citou o Centro de Artes Odessa Macedo, mais especificamente a Oficina de Iniciação e outras oficinas. Mas lembrou da vigésima temporada dos Bufões, que está aberta. "Trabalhando com esforços conjuntos e com os parceiros da Associação de Amigos dos Museus e Associação Pró-Santa Thereza, que abrem portas e janelas para espetáculos em formato de recitais performáticos e apresentações de peças, dentro de seus calendários de atividades", citou.


Desejo da comunidade cultural
Sobre um teatro, Sávio argumentou que o desejo da comunidade cultural em dotar a cidade com o Teatro Municipal é dirigida aos gestores públicos. "E aí é que está centrado o problema. Nenhuma prioridade de cuidado e preservação dos equipamentos públicos, quanto mais da edificação de uma casa de espetáculos. Fizemos as contas das tantas promessas que foram esquecidas desde 2005", ponderou. A fala faz referência a uma conversa com o atual prefeito Divaldo Lara, no Conversa ao Pé do Palco, quando houve a reivindicação de um espaço para as artes. "Dezoito anos se passaram e nada aconteceu. Uma que outra andorinha saindo do ninho para fazer algazarra", acrescentou, ainda sobre isso.

“Os Bufões têm trajetória na produção executiva de eventos com parcerias privadas, e segue sua trajetória de promover o bem-estar cultural dos bageenses, mesmo em momentos de crise e de gestão", disse, afinal, ainda sobre o fazer teatro em Bagé. "Somos ativistas da causa cultural, sem ligação política partidária e lutamos pelo exercício da arte-educação, pelo cuidado com o produto cultural oferecido e pelas manifestações artísticas de qualidade produzidas pelos profissionais e técnicos com currículo para tal - a cultura não merece enxertos nos seus quadros", finalizou.


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