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Dilce Helena Alves Aguzzi

NÃO É SÓ SOBRE FUTEBOL

A jornalista Nani Chemello, durante uma entrevista coletiva após eliminação do Internacional nas semifinais do campeonato gaúcho, na última segunda-feira, questionou o presidente Alessandro Barcelos a respeito da ausência do trabalho de psicologia do esporte na preparação dos atletas colorados. Acompanhei a postagem dela nas redes sociais situando seu raciocínio e ilustrando com exemplos de clubes do Brasil que já fazem há algum tempo esse investimento. Chamou minha atenção os comentários que foram postados a seguir. Toda a sorte de bobagens que demonstram preconceitos e desinformação relacionando o quanto os jogadores são bem pagos para terem questões psicológicas a comprometer desempenho, ou que são homens adultos e, nesse caso, o psicológico não pode ser preponderante. Acaso altos salários forjam resiliência, que é a capacidade adquirida na experiência para lidar adequadamente com situações desafiadoras?  Homens não se enganam? Adultos sabem tomar decisões acertadas sempre e sobre qual a melhor atitude a ser tomada em momentos de grande pressão externa e interna?  

Estas são apenas algumas das principais questões envolvidas com o tema da psicologia do esporte. 

Desde segunda feira estou pensativa sobre esse tema. Sou psicóloga clínica com atuação em consultório há 25 anos, sou professora de psicologia na Faculdade Ideau e para mim é muito claro que o universo psicológico de uma pessoa influencia e muito a qualidade de sua vida, suas percepções do mundo e das situações nas quais se envolve e principalmente suas escolhas. Relacionar o psíquico com fraqueza é típico de culturas que não dão escolha, que exigem estupidamente dos homens e invalidam as mulheres. Homem não sente frio, não chora, não sente dor e não vacila, e qualquer comportamento diferente deve ser ridicularizado. A neurociência é a conexão de muitos saberes, entre eles a neurologia e a neuropsicologia, buscando compreender cada vez mais porque somos como somos e por que agimos da forma como agimos. Mais do que compreender o comportamento, queremos e procuramos desvendar os mistérios da imprevisibilidade, prever crises, evitar, estimular comportamentos adaptavelmente saudáveis e principalmente, criar possibilidades de resiliência e de repertório de ação para situações desafiadoras. 

Nosso aparelho mental e cerebral é fruto e trunfo principal de nossa evolução enquanto espécie, sem ele não teríamos a menor chance neste planeta. A todo momento nossa complexa máquina interna analisa os dados e situações do ambiente e decide se vamos enfrentar ou fugir, para sobreviver. Investir em psicologia é básico tanto quanto medicina do esporte, nutrição e fisioterapia quando o assunto é atleta profissional e de alto rendimento e o motivo é bem claro: um corpo altamente preparado só irá corresponder ao previsível, o comando para o inesperado, as surpresas e as reações aos maiores desafios vêm da relação entre o neurofisiológico e o mental.  

Nani tem razão. Vamos discutir mais sobre esse tema? 


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