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Memória
Didi Pedalada: o artilheiro controverso

Acervo Guarany - Didi Pedalada ganhou o apelido pela habilidade em dar drible nos adversários
Nono maior goleador da história do Guarany de Bagé, com 51 gols, Orandir Portassi Lucas, mais conhecido como Didi Pedalada, marcou época no futebol gaúcho nos anos 1960 e se tornou um dos grandes nomes alvirrubros daquele período. Nascido em Bagé, em 23 de julho de 1946, o ex-atacante também teve uma trajetória polêmica fora dos gramados: tornou-se agente da Polícia Civil durante a Ditadura Militar.
O apelido surgiu ainda jovem, pela habilidade em aplicar repetidamente o drible que décadas mais tarde ficaria famoso nos pés de Robinho, no Santos.
A trajetória no Guarany
Didi defendeu o Guarany por seis temporadas, entre 1963 e 1967, e no retorno em 1977, totalizando 148 partidas oficiais. A estreia ocorreu em 6 de março de 1963, em Santa Maria, quando entrou no segundo tempo da vitória por 3 a 2 sobre o Riograndense, em amistoso. O técnico Félix Magno foi o primeiro a lhe dar oportunidade no time principal.
O primeiro gol saiu pouco depois, também em um amistoso, contra o Riograndense de Rio Grande. Na temporada de estreia, participou de 13 dos 36 jogos do clube e marcou três vezes.
Em 1964, já mais maduro, atuou em 18 partidas e balançou as redes quatro vezes.
O auge veio em 1965, sob comando de Rui Souza. Foram 44 jogos disputados e 30 gols marcados, sendo 15 apenas no Campeonato Gaúcho – desempenho que o colocou entre os principais artilheiros do torneio, atrás de nomes como Alcindo, do Grêmio, que fez 21.
Naquele mesmo ano, o Guarany excursionou pela Argentina, com 14 amistosos, e Didi marcou nove vezes, incluindo gols contra Gimnasia y Esgrima e Huracán.
Jogos históricos
Duas atuações de novembro de 1965 entraram para a história do clube e consolidaram o ídolo.
No dia 7, diante do rival Bagé, o Guarany decidiu a Taça da Cidade. Após uma vitória para cada lado, a terceira partida no Estrela D’Alva definiria o campeão. Didi brilhou: marcou os três gols da vitória por 3 a 1, garantindo a taça e a manchete do Correio do Sul no dia seguinte:
“Com um categórico triunfo, o Guarany manteve a hegemonia no futebol local.”
Duas semanas depois, em 21 de novembro, fez nada menos que cinco gols na goleada de 6 a 1 sobre o Aimoré, pelo Gauchão – outra atuação inesquecível para a torcida alvirrubra.
A partir de 1966, porém, sua média caiu: 27 jogos e sete gols. Em 1967, foram apenas oito partidas, sem marcar.
Após passagens por Internacional, Cruzeiro-MG, Cruzeiro-RS, Athletico-PR e Ypiranga de Erechim, Didi retornou ao Guarany em 1977 para encerrar a carreira. Jogou 38 partidas e marcou sete gols, o último em 16 de novembro, no empate em 1 a 1 contra o Brasil de Pelotas, pela Copa Governador do Estado. Sua despedida oficial aconteceu em 7 de dezembro, na derrota por 4 a 0 para o Inter de Santa Maria.
Da bola à polícia — e a polêmica
Ao pendurar as chuteiras, Didi ingressou na Polícia Civil do Rio Grande do Sul. Pouco depois, acabou envolvido em um dos episódios mais emblemáticos da repressão da Ditadura.
Em 1978, o jornalista Luiz Cláudio Cunha e o fotógrafo João Baptista Scalco flagraram em Porto Alegre o sequestro dos uruguaios Universindo Rodríguez e Lílian Celiberti, vítimas da Operação Condor. A presença da imprensa impediu a ação clandestina e garantiu a libertação do casal.
Dois anos depois, em 1980, os policiais do DOPS João Augusto da Rosa e Orandir Portassi Lucas (Didi Pedalada) foram condenados pelo crime – um dos raros casos de punição a agentes da ditadura.
Didi chegou a ser suspenso e proibido de atuar em Porto Alegre por dois anos, mas retornou à corporação, foi promovido a escrivão e se aposentou.
Faleceu no primeiro dia de 2005, vítima de parada cardíaca, em Porto Alegre.
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