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Feira do Livro
Valdomiro Martins celebra a literatura como espaço de todos

Divulgação - Escolha foi anunciada no dia 1º de agosto
por Priscila Petrecheli
O escritor bageense Valdomiro Martins foi escolhido como Patrono da 27ª Feira do Livro de Bagé. Autor de romances, contos e participante de diversas antologias, Martins é também o primeiro autor negro a ocupar o posto.
Com seis livros publicados e uma formação voltada à escrita criativa, Martins é licenciado em Letras, com mestrado e doutorado pela PUC-RS. Também cursou especializações em literatura, história e filosofia. Seu trabalho mais recente se chama Onanai.
Ao Folha do Sul, Martins relembrou sua trajetória, que considera difícil, como a de tantos escritores brasileiros. Conta que a escrita surgiu de forma natural, aos poucos, mas com uma força inevitável.
Segundo ele, começou nos anos iniciais, ganhando forma definitiva durante a licenciatura em Letras. O marco, porém, foi em 2007, quando foi selecionado para a Oficina de Criação Literária do escritor e professor Luiz Antonio de Assis Brasil.
“A oficina foi importante, pois testou meu fôlego criativo e também físico, pois foram necessários dois semestres de idas e vindas a Porto Alegre. A oficina me deu a confiança e habilidades necessárias para publicar meu primeiro livro, em 2008, Guerrilha e Solidão”, relembra.
Seu primeiro livro propõe uma reflexão sobre as experiências dramáticas vividas pelos negros gaúchos, do tempo do cativeiro ao período pós-abolição. Para Martins, a obra representou um divisor de águas na carreira.
“Assim seguiu minha jornada entre buscas por editoras, divulgação dos trabalhos, luta contra a vontade de desistir da escrita, o que é comum nesse ramo. Publicar é fácil, manter no ringue literário é o desafio”, pontua.
Martins considera que sua literatura possui um forte laço regional. Ele menciona que, sempre que possível, participa dos eventos literários ou da cultura geral.
Obras
“Falar das próprias obras é o mesmo que falar dos filhos, guardadas as devidas proporções, claro. Não importa quantos são, todos são importantes, mesmo que sejam distintos entre si”, começa Martins, ao falar da sua jornada como escritor.
Ele diz que a de 2014, “O Ruído Áspero da Vespa”, mostrou que ele era capaz de realizar uma novela. Já “O Colecionador de Fadas”, também de 2014, reúne contos que marcaram presença em concursos literários. A obra “O Duque da Senzala”, romance de 2019, marcou o início de um fazer literário que considera ser mais profundo.
Seu último lançamento, de 2025, “Onanai”, é um livro que reúne cinco contos que ele diz fugir do lugar-comum.
“Ainda no prelo, temos o romance 'O Negro da Casa', que sairá ainda este ano, se der sorte, chega a tempo para a festa. Como se fosse o filho ainda distante, fechará mais uma etapa dos projetos. Em resumo, todos os livros que publiquei concentram narrativas de personagens que sofrem e lutam, cujos defeitos e virtudes representam o que nos caracteriza: sermos humanos”, avalia.
Feira de oportunidades
Martins diz que tem como perspectiva que a Feira do Livro deste ano seja uma feira de oportunidades: reencontros, encontros, discussão aberta e construtiva entre todos os participantes e de exposição de temas e trabalhos.
“Espero que a feira seja literária, representativa e participativa. Que seja uma festa acima de tudo. Por isso, conto com a participação e apoio de toda a comunidade”, fala.
O primeiro autor negro
Martins é o primeiro autor negro a ocupar o posto de patrono na Feira do Livro bageense. Quando questionado sobre o significado disso, Martins falou que era a resposta mais difícil, “apesar de aparentemente fácil”.
O autor diz que não há dúvidas de que se sente muito honrado, orgulhoso de fato e ciente dessa importância. Ao mesmo tempo, reflete que sabe que, ao longo dos anos, existiram intelectuais negros que poderiam ter o precedido ou mesmo terem sido homenageados.
“Contudo, o destino quis que eu fosse o primeiro e cabe a mim dar início a uma excelente representatividade, não apenas à comunidade negra bageense, mas a todos que se identificam, independente de etnia, gênero ou região da cidade, Estado e país, com a literatura brasileira e seus diálogos”, diz.
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