Santa Casa perde mais de R$ 200 mil ao mês com nova tabela

É delicada a situação que vivem os hospitais filantrópicos em relação ao IPE Saúde. Além de dever para as instituições, o convênio também atualizou os valores das tabelas de pagamento. Nesta reportagem, o jornal Folha do Sul traz alguns detalhes sobre a Santa Casa de Caridade de Bagé. A estimativa é que somente este hospital deixe de ganhar mais de R$ 200 mil por mês.

Conforme o administrador da instituição, Raul Vallandro, o cálculo feito hospital aponta que a nova tabela representaria uma perda de R$ 262 mil por mês, ou seja, aproximadamente R$ 3,14 milhões por ano.

Isso impactaria diretamente a saúde financeira do hospital. Para se ter uma ideia, o IPE Saúde é o convênio com o maior número de atendimentos no hospital, superando a Unimed, por exemplo.

Com as tabelas praticadas anteriormente, o IPE Saúde resultava em um saldo positivo para os hospitais – em média de 7% a 9%. “Com as tabelas atuais, se o IPE der resultado negativo fica praticamente impossível para os hospitais sobreviverem. Os déficits já são altos hoje”, lamentou Vallandro.

Vale lembrar que o IPE Saúde possui uma dívida bilionária com os hospitais gaúchos. Somente para a Santa Casa o convênio deve cerca de R$ 6,5 milhões em pagamentos que estão atrasados desde o ano passado.

SUS pode sentir reflexo

Como o IPE Saúde garantia um saldo positivo para os hospitais, isso acabava cobrindo a defasagem de outras modalidades de atendimentos. Um exemplo disso é o Sistema Único de Saúde (SUS).

Historicamente, o SUS dá prejuízo aos hospitais devido a diferença entre os custos e o valor repassado para as instituições. “A Santa Casa e todos os hospitais filantrópicos já financiam, digamos assim, o Sistema Único de Saúde”, afirmou o administrador. Em uma rápida comparação feita pelo profissional, é possível entender o cálculo. A cada R$ 100 de custos que o hospital tem com algum procedimento, o SUS remunera apenas R$ 51.

Essa diferença de valores é amenizada com convênios como o IPE Saúde, que consegue ser lucrativo em muitos casos. “Se a gente (hospitais) tiver que começar a financiar também o IPE é a morte dos hospitais filantrópicos. Nós não conseguiríamos nos manter. Os hospitais estão muito firmes nessa decisão”, garantiu o administrador.

Acordo

O governador Ranolfo Vieira Júnior se reuniu, na manhã dessa sexta-feira (3/6), no Palácio Piratini, com federações hospitalares e com representantes de hospitais credenciados ao IPE Saúde, para avançar na discussão sobre o equilíbrio econômico-financeiro do instituto.

A reunião, que durou cerca de duas horas, buscou encontrar convergência para a resolução de pontos como o passivo acumulado nos pagamentos aos prestadores de serviços e ajustes necessários para que seja garantida a sustentabilidade do IPE Saúde e o atendimento aos beneficiários.

Ficou acordado que os atendimentos eletivos aos cerca de 1 milhão de segurados não serão suspensos e, nos próximos 30 dias, uma comissão irá buscar soluções para quitar o passivo de R$ 475 milhões do plano de saúde com os hospitais.

O governador ainda disse que será feito um estudo sobre quais tabelas de prestação de serviços estão defasadas e podem sofrer alguma correção, com o objetivo de equilibrar a relação financeira entre o IPE Saúde e os hospitais. Foram citadas como opções as diárias de internações e taxas de logística.

Até então, os hospitais vinham exigindo a anulação dessa tabela sob risco de os atendimentos eletivos serem suspensos. Um acordo contornou essa situação, e o governador afirmou, ao fim do encontro de mais de duas horas, que os novos preços de medicamentos são irrevogáveis pelo fato de terem corrigido distorções.

“Há um inquérito civil-público em andamento e, por isso, não é possível retroceder nessa questão das tabelas. Buscaremos outras formas de equilíbrio a partir deste estudo, como reajustes em outras prestações de serviços que estejam defasadas”, justificou o governador. A revisão na remuneração de diárias e na taxa de logística estão entre as possibilidades que serão debatidas no estudo técnico.