Papa Francisco morre aos 88 anos e deixa legado de diálogo e inclusão

O Papa Francisco morreu na manhã de segunda-feira, 21 de abril, aos 88 anos, no Vaticano. O anúncio foi feito pelo cardeal Farrell, diretamente da Capela da Casa Santa Marta. Nascido Jorge Mario Bergoglio, o pontífice argentino liderou a Igreja Católica por 12 anos e foi lembrado como um fiel servidor dos valores cristãos, com atenção especial aos mais pobres e marginalizados. Sua morte marca o fim de um papado histórico e transformador.  

Francisco foi o primeiro papa latino-americano, o primeiro jesuíta a ocupar o cargo e o primeiro pontífice a suceder um papa vivo, após a renúncia de Bento XVI. Eleito em 2013, era conhecido por seu carisma, simplicidade e postura pastoral em tempos de crise para a Igreja, marcada por escândalos e perda de credibilidade. Seu lema papal, “Miserando atque eligendo”, refletia a misericórdia como pilar de seu ministério.  

Antes do sacerdócio, Bergoglio se formou técnico químico e atuou como professor. Ingressou na Companhia de Jesus em 1958 e foi ordenado padre em 1969. Sua trajetória eclesiástica incluiu funções como reitor, arcebispo de Buenos Aires e cardeal. Era considerado um homem reservado, mas com grande influência e prestígio entre fiéis e colegas de clero. Em 2001, foi nomeado cardeal por João Paulo II.  

Durante seu papado, Francisco promoveu reformas importantes no Vaticano e foi uma voz ativa em temas contemporâneos. Defendeu os direitos dos refugiados, questionou líderes mundiais e buscou tornar a Igreja mais inclusiva, abrindo espaço para o diálogo com pessoas LGBTQIA+ e ampliando a participação das mulheres. No entanto, foi criticado por não avançar em temas como a ordenação feminina.  

Francisco também será lembrado por momentos simbólicos, como a imagem solitária de sua oração na Praça São Pedro durante a pandemia de covid-19. Sua liderança espiritual e seu compromisso com um catolicismo mais humano e próximo das realidades sociais do mundo moderno marcaram profundamente a história da Igreja Católica.  

“Uma chama de esperança que não se apaga” 

Diante da morte do Papa Francisco, o bispo de Bagé, frei dom Cleonir Dalbosco, falou ao Folha do Sul sobre o impacto da partida do pontífice e a marca que ele deixa na história da Igreja e da humanidade. Segundo o religioso, o momento é de tristeza, mas, sobretudo, de esperança. “Ele sempre colocou a esperança em nossos corações. Nesse momento acolhemos a morte terrena do Papa Francisco, com a certeza da sua ressurreição”, afirmou.  

Dom Cleonir destacou a simplicidade e a humildade como marcas do papado de Francisco, desde o primeiro momento de sua liderança na Igreja. “Sua simplicidade e humildade, principalmente em suas atitudes, foi com sabor do Evangelho. Francisco revelou a face humana de Deus. Ele foi muito humano, foi capaz de contagiar o coração do mundo, dentro e fora da igreja”, pontuou. O bispo também lembrou dos encontros pessoais com o Papa, nos quais ele sempre reforçava que “o humano deve estar em primeiro lugar”.  

Na visão do líder da diocese da Rainha da Fronteira, Francisco resgatou a essência da Igreja primitiva, tal como descrita no capítulo 2 do livro dos Atos dos Apóstolos. “Ele valorizava a vida humana e todo o planeta. Assim como Jesus, cuidou dos mais pobres, necessitados, doentes, das viúvas”, declarou. Para Dalbosco, Francisco viveu o Evangelho com autenticidade, refletindo a essência de Cristo em suas ações e palavras.  

O bispo também se referiu ao Papa como um pai espiritual, que acolhia, educava e corrigia com amor. “Ele alimentou em nossos corações a esperança, a esperança que não decepciona”, reforçou. E, lembrando o atual Ano Jubilar que celebra a esperança, afirmou: “Francisco colocou para o mundo inteiro esse grande desafio: nunca desistir”.  

Por fim, Dalbosco afirmou que o mundo jamais esquecerá do Papa Francisco. “Ele semeou e cultivou a semente do Reino de Deus. Muitos frutos já estão sendo colhidos e muitos ainda serão. Francisco será nosso grande intercessor junto de Deus. Ele já é nosso intercessor: temos um grande irmão, um grande pai, um grande amigo que cuida de nós”, concluiu o bispo.  

Missa fica lotada 

No final da tarde de segunda, fiéis lotaram a Catedral de São Sebastião para participar de uma missa em homenagem ao Papa. A missa foi celebrada pelo padre Domingos, pároco da Catedral, e contou com a presença de padres de todas as paróquias de Bagé e também do município vizinho de Pinheiro Machado. O bispo da Diocese de Bagé não esteve presente, pois se encontrava em reunião com outros bispos, fora da cidade. O momento de fé e despedida emocionou os presentes. Em um sinal claro da comoção provocada pela notícia da morte do pontífice, não houve lugares suficientes para todos se sentarem, e muitos acompanharam a celebração em pé, dentro e fora da igreja.  

Sé vacante e sucessão  

Em entrevista publicada no final de fevereiro, o bispo explicou que, diante da morte de Francisco, o processo tradicional da Igreja seria seguido, com a convocação do Conclave para a escolha do novo Papa. Ele pontuou que os cardeais reunidos se colocarão sob a ação do Espírito Santo para definir o sucessor. 

Vale destacar que, a Igreja Católica entrou oficialmente no período conhecido como Sé vacante, quando o trono papal está desocupado. Nesse intervalo, parte do governo do Vaticano é suspensa e decisões urgentes passam a ser coordenadas por um Colégio de Cardeais. A sucessão começa entre 15 e 20 dias após o falecimento, com a realização do conclave, ritual em que os cardeais eleitores escolhem o novo pontífice.  

Durante a Sé vacante*, o camerlengo — atualmente o cardeal irlandês Kevin Joseph Farrell — assume interinamente e organiza as cerimônias fúnebres, além de convocar o conclave. Apenas cardeais com menos de 80 anos podem votar; hoje, são 135 eleitores, incluindo sete brasileiros.  

O conclave acontece na Capela Sistina e segue um rígido protocolo de sigilo. São realizadas até quatro votações por dia, com cédulas secretas que, ao serem queimadas, geram fumaça: preta, quando não há decisão; branca, quando um novo papa é eleito. A eleição exige dois terços dos votos.