Muza apresenta suas memórias em livro que levou 14 anos para ficar pronto

por Niela Bittencourt 

  

Edgar Abip Muza, aos 81 anos, lança seu primeiro livro: Minhas Memórias do Rádio. E foi para a redação do jornal Folha do Sul que o decano da comunicação (são mais de 60 anos de profissão) apresentou sua obra pela primeira vez, no início da tarde dessa sexta-feira, 28 de julho. Aliás, poucas horas após Muza receber o primeiro exemplar em mãos. É preciso dizer que o livro está esteticamente elegante (projeto de Rogério Matos): na capa, há uma foto de Muza em frente ao microfone, com seus fones de ouvido, óculos e, nas mãos e sobre a mesa, exemplares de jornais de Bagé, além de anotações diversas. Na contracapa, há uma foto em preto e branco dessa que é uma figura tão querida pelos bageenses: no registro, de Edison Larronda, Muza acende um “palheiro”, em frente ao microfone – possivelmente momentos antes de começar a transmissão do Visão Geral (programa que está há 54 anos no ar).  

  

A reportagem pergunta quando surgiu a vontade de escrever um livro de memórias, e Muza garante: há 14 anos. “Eu me reunia, antes dessa tal de pandemia, todos os domingos, lá no Eron (Vaz Mattos, o editor do livro), no escritório dele. Nós começávamos a trocar ideia, e ele a me entrevistar, perguntar ‘como é que tu fizesse tal coisa, tal entrevista’, e eu começava a contar a história do rádio pra ele. Um dia, ele diz assim: ‘Sabe de uma coisa? Vamos fazer um livro das tuas histórias do rádio’. Isso faz uns 13, 14 anos”, relata. Muza garante que, diante da ideia, pergunta a Eron Vaz Mattos como fazer (para escrever o livro). “Ué, tu não tem um computador? Tu não sabe redigir? Vai te lembrando das coisas e vai botando ali”, lembra Muza, sobre a resposta do editor. 

  

Ele diz que, então, perguntou a Mattos de que forma, em que ordem. “Não tem ordem! Bota ali e depois vamos aprimorando”, recorda a resposta. É então que Muza diz a Mattos que a partir daquele momento ele é editor do seu livro de memórias. “Ele parou e ‘tá'”, ainda lembra. “Aí eu comecei. Escrevia uma página, mandava. Quando tava na rádio, dava um assunto lá e eu me lembrava. Chegava em casa e escrevia. E assim, começou”, contextualiza. Ou seja, foram 14 anos escrevendo. “Aí, ele (Mattos) quer que eu escreva sobre o carnaval, mas não dá tempo. Em 14 anos foi esse. Que eu leve 10 nesse outro…Vou tá com 92 (anos)”, brinca.  

  

Motivações 

Muza garante que, antes dessa proposta de Mattos, ninguém havia sugerido algo parecido, por incrível que isso pareça. “Nem eu tinha ideia. Eu tô conversando contigo e tô me lembrando de coisas aqui. Tu vai provocando, e a gente vai se lembrando. É assim”, pondera. “Isso é uma coisa que eu acho que é vaidade. Não tem por quê. Mas aí tu começa a te lembrar da juventude que tá se formando…”, diz Muza, sobre uma das motivações para concluir o projeto. “Me perguntaram outro dia – uns estudantes de Jornalismo -, como eu fiz para ser radialista. E eu digo: primeiro eu era tarado por falar em microfone. A gente botava uma lata dessas da época antiga, botava um cordão de 100 metros, e outra lata, e conversava em rádio. Tu ouvia bem direitinho”, recorda. Essa passagem sobre latas não está no capítulo “Como eu iniciei na profissão de radialista”, o primeiro – mas é possível ler nele sobre essa paixão do início muito mais detalhada. 

  

Como Deus fez a batata 

Muza até brinca que tudo no livro – pelo menos no que diz respeito a sua parte – foi feito “como Deus fez a batata”, sem seguir uma cronologia. “Fui colocando ali. Quem endireitou um pouco foi o Eron. O Eron tanto me incomodou que eu acabei fazendo (o livro)”, define. Mas a verdade é que Muza aborda em seu livro um pouco da história; é claro, sob sua perspectiva, como testemunha dela – muito do que viu e viveu em meio a suas verdadeiras aventuras para fazer as transmissões que se comprometia. O destaque é para o capítulo “As ditaduras que eu conheci”. Mas, certamente, um dos que mais chamará a atenção dos leitores é “Minhas gafes no rádio são monumentais”.  

  

Como garantir 

Vale mencionar: Muza concedeu outra entrevista ao Folha, ao vivo no Facebook, e muitos internautas pediram ali para reservar um exemplar da obra. Acontece que Muza chegou a comentar que foram impressos apenas 300 exemplares. A reportagem brinca que vai faltar livro e Muza enfatiza: “Tomara Deus, mas antes falte do que sobre, porque é pesado”. O lançamento, segundo Muza, será em breve, mas ainda está em definição. “Por mim, lançava de cima do Museu porque é bem alto; mas me informaram do edifício mais alto, o Dom Diogo, de lá também”, diz, rindo. Ocorre que o local também não foi definido ainda, porque há bastante interessados. O título está à venda por R$ 50 e pode ser adquirido diretamente com Muza, pelo menos por enquanto. 

  

Público-alvo 

A reportagem pergunta a Muza quem vai gostar de ler esse livro. “Me pegasse de calça na mão, porque eu não tenho a menor ideia. Eu escrevi por encheção de saco do Eron. Tu imagina 12 anos, 13 anos te batendo na cabeça: ‘Faz o livro! Já terminasse? Faz o livro'”, admite. “Mas eu acho que o livro é interessante para quem gosta de história. Mas é uma história pessoal, que se mistura bastante com a história de Bagé. Tanto é que os museus, todos eles, vou presentear com um livro. Se eles botarem foram depois, não tem problema, a minha parte eu vou fazer”, comenta. Muza finaliza ao garantir que o que vai mesmo vender o livro é um texto de Mattos presente nele. “É um poeta, um escritor, é tudo o que tu possa imaginar. Mas, acima de tudo, é amigo”, diz, sobre seu editor.